sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

sobrevivendo

A chuva caía densa, porém não havia barulho algum; nem de gotas nos telhados sozinhos, nem de passos vindo de qualquer outra direção.
Ela ia, pelo chão escorregadio, prendendo-se à concentração para não escorregar. Mas, logo no outro instante - separado por alguma parte de segundo - distraía-se, levada, pelos pensamentos rápidos, a quem há pouco a abandonara para voltar ao caos de antes. E ela, quase desistida, voltava ao medo e às vertigens, piorados pela umidade de tudo em volta.
Lua e estrelas inexistentes; sem vento. Luz opaca e vazio. Foi assim, até o morro acabar. E este pareceu durar uma eternidade. A vida seguia, correndo, enquanto dois corações se distanciavam, cada um na tua direção, separados por umas muitas gotas persistentes e por todo um mundo que insistia em complicar as coisas.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

rotina

Não tenho mais tempo pra pensar em mim.
Passo boa parte dele pensando nos outros... e outra parte pensando nas coisas que tenho que fazer.
Ultimamente só me restam fumaça nos olhos, sangue nas mãos e umas pintas novas. Todo dia uma aparece. Todo dia uma nasce, renasce, enlouquece, junto comigo.
Tá tudo muito longe do meu alcance. Tudo que me faz bem, tudo que me anima, tudo que me ajuda, de certa forma, a melhorar.
Agora fico entre o livro e as palavras vagas. Entre os sorrisos e os bocejos. Entre os olhares e o adeus. Fico diante de um penhasco. A atitude vale uma vida. A atitude vale uma recaída. Passos largos. Olheiras profundas. Cilhos grandes. E um coração pedinte.
Não consigo fingir o tempo todo; e as pessoas andam percebendo, e as pessoas andam se afastando, e as pessoas andam me enganando.
De sincero não tenho nem mais o nascer do sol.
E esse infinito de céu que está o tempo todo ali parece fingir também.
Meu sorriso já dura menos. Meu corpo já não aguenta mais.
Minhas horas existem por mais que dias.
e os meus pulmões...



"a gente aqui, mastigando essa coisa porca, sem conseguir engolir nem cuspir fora nem esquecer esse azedo na boca. Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora faço o quê?"
Caio F. Abreu

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Desabafo

Nada hoje faz muito sentido. A luz do dia soa-me fora de foco. Meus pensamentos desvairados sobre tudo e todos e todas as possibilidades estão me corroendo.
Primeiro as beiradas... até o centro, até o eco, até o vácuo, até o caos.
O meu menino anda distante, longe demais pra equilibrar o "nutrir e o destruir" divididos por aquela linha tênua, que também divide o amor louco e o ódio sensato, as lágrimas de satisfação e os sorrisos de horror, as horas que passam voando e os segundos que parecem rastejar diante dos nossos olhos secos. A balança sempre pendeu mais pra um lado... e eu torcia pra que não caísse mais pro lado contrário. Agora o excesso deixou de ser meu equilíbrio e tornou-se o fator mais importante contra a minha sanidade.
Parece que, pra onde quer que eu olhe, não existe nada além do errado.
Onde foram parar os sorrisos? E os sonhos jovens? E a sinceridade fingida?
Foram parar em outros olhos...
E eu fui esquecida. De novo.
Eu cansei de ser pisoteada e enganada e fingir que está tudo bem.
Não! não está tudo bem. Não estou nada bem.
Porque existem o certo, o errado e todo o resto.
Existem os outros.
Infelizmente, não somos só nós.
E por isso existe o fim.
O fim de todo o resto; que é nos decepcionar, que é foder com tudo que está bem, no seu devido lugar.
Mas o mundo dá voltas... e o que sobe tem que cair.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

"Então ela viveu os melhores momentos que ela jamais passou ao lado de alguém. Mas preferia mil vezes nunca tê-lo conhecido."
[ FY ]

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Peso nos pulmões

Estou cansada. Cansada mental e fisicamente.
Meus pulmões andam pesados e minha sanidade perturbada.
Não tenho pra onde fugir. Todos os caminhos que eu crio me levam pro mesmo lugar, sempre.
Eu tô tentando, de verdade, manter tudo em ordem, mas sozinha eu nao consigo.
Meus sonhos estão envelhecendo, meus dias estão se prolongando e minhas costas estão fodidas como sempre, como nunca!
E eu preciso de tranquilidade e de liberar essa fumaça que tá dentro de mim.
Preciso deixar meu orgulho de lado e colocar as cartas na mesa.
Eu preciso de muita coisa, mas não tenho nada. Nada. Não mais.
Eu pensei, uma vez, que o mundo me pertencia.
Mas não, ele pertence aos outros. Aos outros aos quais eu também pertenço.
O mundo só vai ser meu quando eu conseguir minha liberdade. Quando eu conseguir me livrar do meu orgulho e do meu pré-conceito em relação a tudo e a todos.
Mas eu não sou forte o bastante. Não agora, pelo menos.
Amanhã, quem sabe?
Agora só quero dormir e esquecer de todo o resto que tá me machucando tanto.
Agora eu só queria a tranquilidade de outrora.
Agora eu só queria voltar ao que eu era antes.
Luz, camera, ação.
Mentiras. Mais um dia.
bons sonhos, queridos.
Divirtam-se bastante, enquanto eu lamento minha solidão.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

It's all about

Eles, mesmo com aquele amor explodindo os poros, não se respeitavam. Precisavam de novidades constantes. Egoístas e mentirosos, devia ser por isso que se amavam tanto.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

indo

Faz tempo que eu não enxergo as coisas como deveria.
Tudo parece pouco. Tudo parece roxo como a saudade.
O amanhecer é laranja, rosa, azul. Mas faltou o verde.
Da janela observo; sigo sem me movimentar, assistindo aos espetáculos psicodélicos proporcionados pela aurora tardia.
Sorrio, ao nada, ao tudo, aquele sorriso de canto, aquele sorriso de satisfação; rapidamente escondido pela preocupação de perder o que me resta.
Memória ruim. Agora já não me lembro do arrebol detalhadamente.
Só consigo lembrar dos meus sonhos purpureos. Dos meus sonhos desaparecidos.
Só consigo lembrar da saudade e dos teus olhos.
Eles combinam.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

guarda-chuva vermelho

Chovia amarelo na tarde de verão.
A garota seguia, sozinha com sua loucura.
Só existia a despreocupação.
Só existia a menina e as águas.
Depois um carro, contra mão.
E num instante, tudo.
Depois o não.
Restou no asfalto um guarda-chuva vermelho
e um corpo branquelo no chão.


Dia de chuva, granizo e abstinência.

A vida é um soco.

Um soco na porra do estomago dolorido. Um soco nos olhos fundos de noites mal dormidas. Um soco nos joelhos fudidos. Um soco na boca seca, pedinte, adormecida.
Parece que quando mais você precisa de você mesmo mais o mundo te machuca. Eu tô sangrando, por dentro e por fora. Eu to gritando sem ninguém me escutar. Eu to me atormentando com as coisas mais banais.
E não é assim que eu sou. Não é assim que quero ser.
Quero voltar à minha essencia de outrora. Quero acreditar que o céu, à qualquer hora do dia, pode me proporcionar a visão mais sublime... e que ele acaba rápido e que eu tenho que aproveitar.
Mas eu fico quieta, observando, desvairando, enlouquecendo, sozinha.
O dia continua amanhecendo escuro. Nada frio.
O arrebol me entorpece, anestesia, por pouco tempo.
Minha vista embaça, aos poucos, até a escuridão tomar tudo por completo.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

fim

A partir de amanhã:
5 horas da manhã eu saio. 6 horas da tarde eu caio e desmaio até às 5 do outro dia. E vai ser assim enquanto eu aguentar.
Longe de tudo que me faz bem. Perto da insanidade.
Não vejo a hora desse pesadelo acabar. Não vejo a hora de cair no precipício verde que eu adoraria que me engolisse pra sempre.
Não vejo a hora de não ter mais hora pra nada.
As férias de verão estão muito longe, sr.?
Espero que não, porque estou enlouquecendo desde agora.
Preciso de um pouco de tranquilidade e de uns dias bem vividos.

Ouvindo Chico Buarque, torcendo pra que o ventilador não caia na minha cabeça e implorando pra que tudo dê certo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Velvet Goldmine

Mandy: I don't think I have what you're looking for.
Arthur: I think you do, actually.
Mandy: Oh, yeah? what makes you say that?
Arthur: That smile for one thing.
Mandy: Well, smiles lie.
Arthur: Exactly.


Hoje podia ser uma ótima sexta-feira, não é?
Expectativas têm o habito de te animar pra depois te desapontar...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Cinzas

Uma hora a pólvora esquecida tem que explodir.
Acontece geralmente quando jogam fogo, e atiçam as faíscas.
Depois de tanto auto-flagelo o corpo já não agüenta mais. Ele sangra desnorteado e suplica por noites de sono bem sonhado. Apodrece estendido, exangue, no colchão duro, observando a noite, obrigado a conviver com a solidão do escuro esquecido.
Lateja, formiga, adormece. Tudo muito superficialmente. Tudo muito aniquilante.
A alma, outrora forte, já não mais sente, apenas existe. E de existir está cheia!
Quer liberdade! Quer tranqüilidade! Quer esquecer o mundo ao fechar os olhos e quer enxergar beleza ao abri-los.
Mas quando é impossível, quando botam fogo na pólvora adormecida, quando todo o resto te espanca o bastante pra te fazer cair, a única saída é aceitar o que resta. A única saída é aceitar o pó.

Com dois L's

Wake up the sun is coming
Through the window
We're riding with the sun
I feel your heart beat
The morning light plays in your eyes
With floating blue and white skyline
A city in the skies for Isabella
We're gazing through the clouds
We sail the wind rose (four winds)
The break of day sparks my desire
And ocean waves won't quench the fire
We kiss we're high,
we're riders in the sky
The city lies below
A sillouete, a glow
A tale of passion
I close my eyes (full flaps downs)
You hold me tight
We touch the ground
Isabella
Our hopes are riding over the city
We search the busy streets
We're not alone here
The city lights flare my desire
A million tears won't quench the fire
And if it starts to rain
We'll take a train
Tom Jobim


Só queria que as coisas fossem um pouco mais fáceis, mais simples.
Eu só queria poder viver do meu jeito, pra tirar esse peso dos meus pulmões.

carnaval

500 mil pessoas sem fazer nada,

pulando no meio da rua

Gozando do próprio sofrimento

Centenas de milhares de idiotas

Que trabalham o ano inteiro

Pra gastar todo dinheiro nesses quatro dias...

Nesses quatro dias de folia programada

Mundo Livre S/A

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

A grande Festa

Lotação.
Excesso e escassez andando de mãos dadas.
Atadas. Ataduras. Sangue.
Um grito
jovial e aflito
que pula do peito
abrange todo o universo
Sofreguidão.
O caos. E as estrelas se dispersam.
Poucas. Infames.
Chove, escorre.
Vomitam-me em entrelinhas, em entreolhares.
Um brinde. um gole.
À morte, no fim da madrugada.
Sorrisos.
Simpatia gratuita.
Profanação e amor.
Lágrimas engolidas.
A corcunda.
Os ossos. A ausência deles.
O desejo e a delicia.
O medo. Covardia.
As gotas. A poça d'água.
A tentativa em vão.
O abraço.
Adeus.
No término da grande festa
Restam, despejados, pedaços
de papel e de chocolate
uma pitada de hortelã
Fumaça. Desilusão.