sábado, 29 de março de 2008

(sem título)

Luz opaca de fim de tarde que precede chuva.
Um amarelo sem vida de um sol que se despede penoso.
Ventos que não uivam, só passam, por passar.
Um pouco de saliva, porque é necessário.
Um pouco de música, porque é animador.
Um pouco de solidão, porque sim.
E aquele sentimento de que algo não foi realizado por simples distração.
Eu estou cansada de ter que tomar tragos fracos e goles pequenos.
Estou farta de seringas que pingam e não jorram.
Quero Overdoses... daquelas enormes... entorpecentes
E quero ter tudo o que eu preciso pra sobreviver ao meu alcance
aqui, nas minhas mãos frias e um tanto brancas demais.

Break on through

You know the day destroys the night
Night divides the day
Tried to run
Tried to hide
Break on through to the other side

We chased our pleasures here
Dug our treasures there
But can you still recall
The time we cried?
Break on through to the other side

Everybody loves my baby
Everybody loves my baby

I found an island in your arms
A country in your eyes
Arms that chain us
Eyes that lied
Break on through to the other side

Made the scene from week to week
Day to day, hour to hour
The gate is straight
Deep and wide
Break on through to the other side...

The Doors

domingo, 23 de março de 2008

Haha

De repente o vinho virou água!
E a ferida não cicatrizou.
O limpo se sujou.
E, sabe, no terceiro dia ninguém ressuscitou...

sábado, 22 de março de 2008

It's the beginning of the end

Several hours or several weeks,

I'd have the cheek to say they're equally as bleak!

Do me a favor, and brake my nose.

Do me a favor, tell me to go away.

She walked away, well her shoes were untied.

And the eyes were all red, you could see that we'd cried.

And I watched and I waited,

'till she was inside, forcing a smile and waving goodbye.

It's all too heavy to hold...

Saturday nights have been lonely

Sábado pós sexta-feira da paixão.
Jesus morreu pela milésima(...) vez e os turistas vieram ajudar a economia da cidade.
Carros na contra mão e gente demais pra pouco espaço.
Muitos olhos focando o nada, fingindo estarem tristes por um cara que morreu pelos pecados deles, mas não pelos meus.
- Se os meus pecados eu pago agora, não há porque lamentar (festejar?).

A Lua estava linda, brilhando como nunca, triste e sozinha como sempre.
Lá em cima, longe de tudo e de todos, onde eu queria estar.
As nuvens de chumbo teimaram, mas não derramaram lágrimas.
Já eu... ah! eu o fiz, de novo. Porque é desesperador ter o mundo nos bolsos e não poder tê-lo nas mãos. Porque é destruidor saber que quero, mas não posso. Porque eu não sei mais o que fazer!
E enquanto o resto do mundo orava, eu só queria que minha sexta-feira da paixão não terminasse.
Porque eu estava quase onde eu queria estar.
Quase.
Faltava pouco. Bem pouco.
Talvez mais uns passos...
pra longe.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Difícil de Explicar

Perdi o último ônibus, vou pegar o próximo trem.
Eu tento, mas veja, é difícil de explicar!
Digo as coisas certas mas ajo da forma errada...
Eu gosto daqui, mas não posso ficar.
Assisto a televisão, esqueço o que me dizem.
Bem, eu sou muito jovem, e eles são muito velhos.
A piada é você, esse lugar é um zoológico!
"Você está certo, é verdade"

Ele diz que não consegue se decidir.
Eu balanço a cabeça para dizer 'Tudo é ótimo!'
Oh, eu não consigo me lembrar!! Eu não consigo me lembrar!!

Digo as coisas certas, mas ajo da forma errada.
Eu gosto daqui mas não posso ficar...
Assisto a televisão, esqueço o que me dizem.
Bem, eu sou muito jovem, e eles são muito velhos.
Oh, cara, não está vendo? Eu estou nervoso, então por favor, finja ser legal, se não eu serei mau!
Perdi o último ônibus, vamos pegar o próximo trem?
Eu tento, mas veja, é difícil explicar.

terça-feira, 18 de março de 2008

Love is Suicide, Dear

Picture yourself in a boat on a river
With tangerine trees and marmalade skies
Somebody calls you, you answer quite slowly
A girl with kaleidoscope eyes

Cellophane flowers of yellow and green
Towering over your head
Look for the girl with the sun in her eyes
And she's gone

Follow her down to a bridge by a fountain
Where rocking horse people eat marshmallow pies
Everyone smiles as you drift past the flowers
That grow so incredibly high

Newspaper taxis appear on the shore
Waiting to take you away
Climb in the back with your head in the clouds
And you're gone

Picture yourself on a train in a station
With plasticine porters with looking glass ties
Suddenly someone is there at the turnstile
The girl with kaleidoscope eyes



Hoje eu só queria que todo mundo desaparecesse; eu queria que só restassem eu, a estrada correndo de um jeito estranho, o céu azul rosa laranja e um tanto lilás, e a lua que brincava de esconder.
Mas não. Sempre há o resto.
Podia existir só o certo e o errado e o arrepio, o jack kerouac e a xícara de café no fim da noite.
E por que não um pouco de alucinação?

Estou destruída.
Preciso me nutrir.
mais. e mais. e mais.




segunda-feira, 17 de março de 2008

Uma síntese

Ela tinha os olhos curtos e os cabelos grandes. Ou seria o contrário? Não importa.
Ele era magro demais, tinha bochechas fundas demais, era louco demais; o excesso era seu equilíbrio.
Eram opostos, antíteses, com um segredo em comum. Um segredo quieto, sublime, rastejante, reservado ao vácuo interno de cada um deles.
Possuíam um vazio que julgavam impreenchível e um demônio que os devorava aos poucos.
Ela quase não sorria, ele quase não dormia. Completavam-se distantes.
Olhavam-se em silêncio. Nunca se tocavam. Mas as pessoas percebiam que algo queimava dentro deles quando se aproximavam um do outro... só que nunca chegaram muito perto, com medo de que as faíscas provocassem uma explosão.


Isso faria mais sentido se postado há dois anos atrás,
quando fora escrito.
Hoje, não passa de um resumo de algo verdadeiro
que acabou por deixar de ser platônico.
Irônico, não?

domingo, 16 de março de 2008

Conclusão

Não são nem nove horas e meu final de semana acabou.
Não vejo a hora de ter minhas coisas de volta.. entre elas, o tempo.
Gostaria de dormir a tarde, ficar encarando o teto do meu quarto no escuro e poder passar o cadarço no meu tênis.
Preciso assistir a uma chuva mesclada com o pôr do sol, tomar um café e ler.
Adoraria sentir uma barra de chocolate derretendo na minha boca, sentar em algum canto e sentir o cheiro do dia passando por mim e tomar uma lata de refrigerante sem pensar na celulite.
Queria ter minha inocência de volta. Queria que fosse fácil assim. Queria voltar pra dentro de mim... onde era quente e não existiam a solidão e a dependência.

sábado, 15 de março de 2008

sábado chuvoso

Chuva que não pára. Só pinga.
E é sábado.
Um sábado sem céu azul na janela, sem sol queimando os olhos, sem refrigerante no canudinho ou algo que o valha.
É só um sábado a mais... ou um dia a menos. Você não escolhe, só existe. Passa pensando que vive.
Eu aqui, trancada no quarto, diante de uma folha de sulfite e de uma caixa de "ecolápisdecor" com 24 opções diferentes e eu só queria usar o verde. O verde pra pintar uns olhos; mas ele sempre vem acompanhado do roxo, a cor da saudade... ah! E eles combinam tanto, tanto que até machuca.
Também existe um livro do burroughs e outro do kerouac... e eu não consigo criar. Não consigo. Simples e doído assim. Sem conseguir.
Escolho o branco pra rabiscar sem se ver. Rabisco. Nada. Ainda grito por dentro, um grito azul, azul como devia ser o céu nesse sábado cinza.
O vermelho não me lembra sangue e o preto me lembra café.
Eu observo com olhos tristes e violetas um dia que devia ter um arco-íris, mas é como se todos os lápis estivessem sem ponta. E estão.
Pontiagudo, aqui, só o som.
O som das gotas lá fora... traçando meu dia numa folha de papel, onde a unica cor que funciona é a cor da chuva... a cor transparente do nada que sinto agora.

terça-feira, 11 de março de 2008

Felpudo

Interpol ali do lado. Olheiras. Um vazio aqui dentro... e aqui fora, também.
Silêncio nas minhas entranhas.
Escuro.
É hora de esquecer um pouco as coisas e tentar dormir.

E eu só queria que tudo voltasse ao normal que eu nem sei como é

domingo, 9 de março de 2008

de uma cronica qualquer

- Eu já estive no hospício duas vezes.
- Nossa; Você também?
- Você também esteve no hospício?!?
- Não. Conheço outras mulheres que estiveram.

Do grande bêbado e tarado
C. Bukowski

terça-feira, 4 de março de 2008

O dia em que Júpiter encontrou Saturno

(Nova história colorida)



Foi a primeira pessoa que viu quando entrou. Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto. Deram-lhe um copo de plástico com vodca, gelo e uma casquinha de limão. Ela triturou a casquinha entre os dentes, mexendo o gelo com a ponta do indicador, sem beber. Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou uma cadeira de junco junto a janela. A noite clara lá fora estendida sobre Henrique Schaumann, a avenida poncho & conga, riu sozinha. Ria sozinha quase o tempo todo, uma moça magra querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz. Molhou os lábios na vodca tomando coragem de olhar para ele, um moço queimado de sol e calças brancas com a barra descosturada. Baixou outra vez os olhos, embora morena também, e suspirou soltando os ombros, coluna amoldando-se ao junco da cadeira. Só porque era sábado e não ficaria, desta vez não, parada entre o som, a televisão e o livro, atenta ao telefone silencioso. Sorriu olhando em volta, muito bem, parabéns, aqui estamos.Não que estivesse triste, só não sentia mais nada.Levemente, para não chamar atenção de ninguém, girou o busto sobre a cintura, apoiando o cotovelo direito sobre o peitoril da janela. Debruçou o rosto na palma da mão, os cabelos lisos caíram sobre o rosto. Para afastá-los, ela levantou a cabeça, e então viu o céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Vista assim parecia não uma moça vivendo, mas pintada em aquarela, estatizada feito estivesse muito calma, e até estava, só não sentia mais nada, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco parada assim, meio remota, o moço das calças brancas veio se aproximando sem que ela percebesse.Parado ao lado dela, vistos de dentro, os dois pintados em aquarela - mas vistos de fora, das janelas dos carros procurando bares na avenida, sombras chinesas recortadas contra a luz vermelha.E de repente o rock barulhento parou e a voz de John Lennon cantou every day, every way is getting better and better. Na cabeça dela soaram cinco tiros. Os olhos subitamente endurecidos da moça voltaram-se para dentro, esbarrando nos olhos subitamente endurecidos do moço. As memórias que cada um guardava, e eram tantas, transpareceram tão nitidamente nos olhos que ela imediatamente entendeu quando ele a tocou no ombro.


-Você gosta de estrelas?
-Gosto. Você também?
-Também. Você está olhando a lua?
-Quase cheia. Em Virgem.
-Amanhã faz conjunção com Júpiter.
-Com Saturno também.
-Isso é bom?
-Eu não sei. Deve ser.
-É sim. Bom encontrar você.
-Também acho.

(Silêncio)


-Você gosta de Júpiter?
-Gosto. Na verdade "desejaria viver em Júpiter onde as almas são puras e a transa é outra".
-Que é isso?
-Um poema de um menino que vai morrer.
-Como é que você sabe?
-Em fevereiro, ele vai se matar em fevereiro.

(Silêncio)


-Você tem um cigarro?
-Estou tentando parar de fumar.
-Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
-Você tem uma coisa nas mãos agora.
-Eu?
-Eu.

(Silêncio)

-Como é que você sabe?
-O quê?
-Que o menino vai se matar.
-Sei de muitas coisas. Algumas nem aconteceram ainda.
-Eu não sei nada.
-Te ensino a saber, não a sentir. Não sinto nada, já faz tempo.
-Eu só sinto, mas não sei o que sinto. Quando sei, não compreendo.
-Ninguém compreende.
-Às vezes sim. Eu te ensino.
-Difícil, morri em dezembro. Com cinco tiros nas costas. Você também.
-Também, depois saí do corpo. Você já saiu do corpo?

(Silêncio)


-Você tomou alguma coisa?
-O quê?
-Cocaína, morfina, codeína, mescalina, heroína, estenamina, psilocibina, metedrina.
-Não tomei nada. Não tomo mais nada.
-Nem eu. Já tomei tudo.
-Tudo?
-Cogumelos têm parte com o diabo.
-O ópio aperfeiçoa o real
-Agora quero ficar limpa. De corpo, de alma. Não quero sair do corpo.

(Silêncio)


-Acho que estou voltando. Usava saias coloridas, flores nos cabelos.
-Minha trança chegava até a cintura. As pulseiras cobriam os braços.
-Alguma coisa se perdeu.
-Onde fomos? Onde ficamos?
-Alguma coisa se encontrou.
-E aqueles guizos?
-E aquelas fitas?
-O sol já foi embora.
-A estrada escureceu.
-Mas navegamos.
-Sim. Onde está o Norte?
-Localiza o Cruzeiro do Sul. Depois caminha na direção oposta.

(Silêncio)


-Você é de Virgem?
-Sou. E você, de Capricórnio?
-Sou. Eu sabia.
-Eu sabia também.
-Combinamos: terra.
-Sim. Combinamos.

(Silêncio)

-Amanhã vou embora para Paris.
-Amanhã vou embora para Natal.
-Eu te mando um cartão de lá.
-Eu te mando um cartão de lá.
-No meu cartão vai ter uma pedra suspensa sobre o mar.
-No meu não vai ter pedra, só mar. E uma palmeira debruçada.

(Silêncio)

-Vou tomar chá de ayahuasca e ver você egípcia. Parada do meu lado, olhando de perfil.
-Vou tomar chá de datura e ver você tuaregue. Perdido no deserto, ofuscado pelo sol.
-Vamos nos ver?
-No teu chá. No meu chá.

(Silêncio)

-Quando a noite chegar cedo e a neve cobrir as ruas, ficarei o dia inteiro na cama pensando em dormir com você.
-Quando estiver muito quente, me dará uma moleza de balançar devagarinho na rede pensando em dormir com você.
-Vou te escrever carta e não te mandar.
-Vou tentar recompor teu rosto sem conseguir.
-Vou ver Júpiter e me lembrar de você.
-Vou ver Saturno e me lembrar de você.
-Daqui a vinte anos voltarão a se encontrar.
-O tempo não existe.
-O tempo existe, sim, e devora.
-Vou procurar teu cheiro no corpo de outra mulher. Sem encontrar, porque terei esquecido. Alfazema?
-Alecrim. Quando eu olhar a noite enorme do Equador, pensarei se tudo isso foi um encontro ou uma despedida.
-E que uma palavra ou um gesto, seu ou meu, seria suficiente para modificar nossos roteiros.

(Silêncio)

-Mas não seria natural.
-Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
-Natural é encontrar. Natural é perder.
-Linhas paralelas se encontram no infinito.
-O infinito não acaba. O infinito é nunca.
-Ou sempre.

(Silêncio)

-Tudo isso é muito abstrato. Está tocando "Kiss, kiss, kiss". Por que você não me convida para dormirmos juntos.
-Você quer dormir comigo?
-Não.
-Porque não é preciso?
-Porque não é preciso.

(Silêncio)

-Me beija.
-Te beijo.

Foi a última pessoa que viu ao sair. Tão bonita que ele baixou os olhos, sem saber sabendo que ela também o tinha visto. Desceu pelo elevador, a chave do carro na mão. Rodou a chave entre os dedos, depois mordeu leve a ponta metálica, amarga. Os olhos fixos nos andares que passavam, sem prestar atenção nos outros que assoavam narizes ou pingavam colírios. Devagarinho, conquistou o espaço junto à porta. Os ruídos coados de festas e comandos da madrugada nos outros apartamentos, festas pelas frestas, riu sozinho. Ria sozinho quase sempre, um moço queimado de sol, com a barra branca das calças descosturadas, querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz. Mordeu a unha junto com a chave, lembrando dela, uma moça magra de cabelos lisos junto à janela. Baixou outra vez os olhos, embora magro também. E suspirou soltando os ombros, pés inseguros comprimindo o piso instável do elevador. Só porque era sábado, porque estava indo embora, porque as malas restavam sem fazer e o telefone tocava sem parar. Sorriu olhando em volta. Não que estivesse triste, só não compreendia o que estava sentindo. Levemente, para não chamar a atenção de ninguém, apertou os dedos da mão direita na porta aberta do elevador e atravessou o saguão de lado, saindo para a rua. Apoiou-se no poste da esquina, o vento esvoaçando os cabelos, e para evitá-lo ele então levantou a cabeça e viu o céu. Um céu tão claro que não era o céu normal de Sampa, com uma lua quase cheia e Júpiter e Saturno muito próximos. Visto assim parecia não um moço vivendo, mas pintado num óleo de Gregório Gruber, tão nítido estava ressaltado contra o fundo da avenida, e assim estava, mas sem compreender, fazia tempo. Quem sabe porque não evidenciava nenhum risco, a moça debruçou-se na janela lá em cima e gritou alguma coisa que ele não chegou a ouvir. Parado longe dela, a moça visível apenas da cintura para cima parecia um fantoche de luva, manipulado por alguém escondido, o moço no poste agitando a cabeça, uma marionete de fios, manipulada por alguém escondido. De repente um carro freou atrás dele, o rádio gritando "se Deus quiser, um dia acabo voando". Na cabeça dele soaram cinco tiros. De onde estava, não conseguiria ver os olhos da moça. De onde estava, a moça não conseguiria ver os olhos dele. Mas as memórias de cada um eram tantas que ela imediatamente entendeu e aceitou, desaparecendo da janela no exato instante em que ele atravessou a avenida sem olhar para trás.

(Do livro Morangos Mofados - Caio Fernando Abreu)