quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Era verão. Ou era quase verão. Só sei que chovia constantemente e fazia calor, também.
Por isso ele sempre saia sem camisa e ela sempre levava um guarda-chuva.
O fato de sair sem camisa não fazia com que ele sentisse menos calor e levar um guarda-chuva não a privava de se molhar, mas mesmo assim eles insistiam em aproveitar até mesmo esses dias traiçoeiros, porém bonitos e poéticos.
Num desses dias de verão (ou quase) resolveram não sair de casa. Ela precisava terminar uns trabalhos da faculdade e ele estava no meio de uma nova matéria pro jornal no qual trabalhava.
Ela estava toda suja de tinta e ele com as costas doloridas. Resolveram parar e fazer uma happyhour pra espairecer.
Ela abriu a garrafa de vinho e ele pegou os copos. Ela encheu-os enquanto ele beijava seu pescoço. Ele ria enquanto ela se insinuava e seguia rumo à vitrola velha que trouxera consigo como única lembrança que valia a pena carregar.
Ela colocou seu disco e veio dançando na direção dele, que sorria bonito caindo languido no sofá que custaram a comprar.
Ele abriu os braço e ela sentou em seu colo e beijaram-se ardentemente enquanto a música seguia fria e rápida.
Ele segurou o pescoço dela enquanto ela passava-lhe as mãos nos ombros ossudos.
Suas línguas brigavam entre si enquanto os corpos todos encontravam-se num frenesi desconcertante.
Ventava muito e sol estava sumindo aos poucos, mas eles nem perceberam.
Ela levantou e encarou-o, logo depois entregou-se novamente.
Ele arrebentou-lhe a camiseta manchada de tinta enquanto ela unhava-lhe as costas estreitas.
A música continuava intensa e os copos de vinho, cheios.
Ele a invadiu com mais amor impossível e ela retribuiu com o beijo mais doce que ele ja experimentara.
Entraram em êxtase juntos, sorriram juntos, se abraçaram juntos. Tornaram-se um só por um longo espaço de tempo, como se nunca mais fossem se ver.
Se completavam por simplesmente serem.
Ele passou as mãos no rosto dela e balbuciou algo que ela nunca entendera.
Ela beijou-lhe os olhos e disse que sentia-se feliz.
Ele nunca fora tão sincero quando concordou.
Ela apoiou seu queixo no ombro dele enquanto ele sentia a textura da pele dela com os dedos.
Ele se levantou e pegou os copos de vinho enquanto ela acendia um cigarro.
Degustaram o vinho como se ele fosse o ultimo. De alguma forma eles sabiam que seria... e que, na verdade, o verão já havia passado.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

anotação

Pretendo me aprofundar em certos assuntos e esquecer algumas banalidades.


só pra constar: Hoje foi um dia legal.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

tu te tornas eternamente responsável...

Estou doente. Doente feito vespas que voam tortas pelo vento frio sem esperança alguma de vida após a morte.
Estou soando feito sinos, suando feito búfalos, correndo contra o tempo que segue e mata e segue e morre.
Sem perspectivas, sem dados, sem efeitos. Prossigo errônea e desinteressada diante de todos os tolos que buscam o ouro próprio deles.
É como se o céu não se mostrasse mais infindo e como se ninguém fizesse sentido algum perante as belezas mortas da natureza sobrevivente.
As flores, agora, só precedem os dias mais quentes que virão. Verão. Chuvas e alagamentos internos.
Eu ressoo e vibro ao toque. Eu sinto falta. Muita, às vezes.
Eu bebo sozinha e me esqueço da vida dentro do bar escondido.
Eu rio e ouço. Eu me rasgo em chamas. Eu sofro em silêncio.
Mas eu continuo, porque estou doente apenas por amar de mais o que me cativa.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

chame do que quiser

Uns dizem ser ironia, outros ousam até falar que é destino.
Não acredito em nenhuma das duas nomenclaturas a esse caminho meu, só meu, de mais ninguém!
Não é errado, nem certo! É todo o resto que eu quiser que seja.
Eu ainda sinto, eu ainda vivo, eu ainda sofro - menos, mas sofro - e eu ainda, por incrível que pareça, não desisti.
E que fique bem claro: O mundo me pertence!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

em questão de segundos²

há um ano atrás eu estava tendo um filho.
há um ano atrás éramos as pessoas mais felizes do mundo trancadas em nosso casulo!
há um ano atrás o mundo era limpo e as pessoas bonitas.
há um ano atrás ele era homem e eu era mulher.
há um ano atrás ele me escrevia e eu o amava.
há um ano atrás eu o sentia e ele me olhava.
há um ano atrás ele era meu lugar preferido.
há um ano atrás eu era só sua.
há um ano atrás estávamos tendo um filho.
há um ano atrás eu era a pessoa mais feliz do mundo.
hoje
hoje
hoje...

em questão de segundos

Tudo faz pouco sentido numa quarta-feira quente.
Ele chegou e pediu o isqueiro, retribuindo com um cigarro.
Parece que as coisas se esclareceram, e eu o amei numa fração de segundos.
Depois ele foi embora com a garota dele. Eu fiquei com o cigarro e com o isqueiro.
Saí ganhando. Tenho certeza. Saí ganhando!

sábado, 4 de outubro de 2008

frescor.

Há dias em que o conjunto de virtudes faz todo o sentido possível de se alcançar com a mente no estado evoluído normal dela.
Todas as peças do enorme quebra-cabeça de que é edificado nosso âmago estão com suas extremidades no exato lugar ao qual elas pertencem.
O sol some sem trazer chuva, como se fosse contra as regras. E as rosas não exalam perfumes, mas falam conosco num dialeto impróprio aos carentes de poesia.
As nuvens tomam formas e cores impróprias aos cegos de espírito e nossos olhos descobrem sozinhos que no mundo há muito mais do que pode ser percebido.
Os ventos do sul continuam lá, com suas correntes e cadeados, e nossa essência tremula diante da verdade esquecida que nos é revelada quando nos encontramos no estado de completa felicidade com nós mesmos.
Os sorrisos petrificados vibram sem serem atiçados e nossos orgãos derramam bálsamos interiores que nos lavam de felicidade com um simples toque, por mais abstrato que esse seja.
Sons vibram com nossas frequências pessoais e tornam-se mais intensos e reais conforme seguimos a melodia.
As ondas sonoras transformam-se em luzes que percorrem o infinito limitado do céu em cima de nossas cabeças e pintam de vermelho o que outrora fora incolor, por simplesmente serem fáceis.
As estrelas soam como sinos mentirosos e nos jogam na cara o quão pequenos somos diante da imensidade dos sentidos que nos foram designados em sua mais crua e frágil versão.
E a voz daqueles que nos dirigem a palavra tornam-se ruídos irregulares que dentro de nós fazem um pouco de sentido que logo é substituído pelo significado prévio.
Há dias em que nossos sentimentos seguem os nosso batimentos cardíacos num frenezi desconcertante.
Há dias em que somos nós mesmos porque, simplesmente, não queremos qualquer outra opção.
Há dias em que aceitamos que nossos refúgios são meras desculpas e que a melhor saída é sermos.