segunda-feira, 24 de agosto de 2009

matinal

Ele saiu às 6 da manhã.
Chovia desesperadamente como se aquele fosse o ultimo suspiro das nuvens de chumbo - das nuvens de chumbo dentro e fora dele.
Sua capa pouco o protegia dos pingos insistentes, contínuos e frios - frios como as mãos das donzelas que saem à procura de um foda ou de uma embriaguez; frio como o sorriso de seu pai que morrera antes mesmo do filho nascer; frio como o coração de sua mãe, velha imprestável largada no sofá há alguns anos, que só sabia reclamar da vida e do tempo, das gotas frias da chuva e do calor insuportável do sol, do final da novela e dos vizinhos que não mais vinham fofocar-lhe.
Era de couro preto, a capa, e combinavam com as luvas que não serviam para esquentar os dedos judiados e amarelos.
Parou embaixo do ponto de onibus, junto com mais tantos outros matutinos.
Tirou as luvas e guardou-as no bolso. Tirou a caixa de cigarro que estava escondida esse tempo todo, para não se molhar, e acendeu, com dificuldades, seu penúltimo cigarro.
O tragou incessantemente, com o olhar de repudio dos amigos que dividiam o ponto de onibus e com o olhar de vontade da moça que brincava com o isqueiro prata.
Olhou para ela, e sentiu correr-lhe algo quente pela espinha. Desistiu.
Terminou seu cigarro e jogou-o na calçada, esperando que a chuva o lavasse dali.
Dirigiu-se ao bar mais próximo.
Pediu uma dose de whisky depois de desejar feliz aniversário ao balconista, que fazia aniversário todo dia 13, de todo o mês, por questão de superstição.
Tomou seu copo e saiu. Ainda chovia, agora menos, mas chovia.
Foi direto para casa. Cumprimentou em silêncio a mãe que o esperava todos os dias, às 6 da manhã, e foi dormir.
Tomou um banho no chuveiro quase sem agua, por mais que houvesse excesso da mesma do lado de fora, e deitou, de pijama, na cama que utilizava há mais de 20 anos.
Tratou de dormir logo depois que sua mãe gritou um "boa noite" tímido da sala.
Precisava descansar.
Confeitar bolos de madrugada não é trabalho pra qualquer um.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

vermelho

desespero e angustia
em duas doses de vodca
fumaça, lua, carros.
luzes e barulho.

um soco no estômago
um pau na vagina
sapatos, roupas, meias
e mais duas vozes de vodca.

um minuto de silencio
pro cigarro que morre no cinzeiro
pra garrafa que morre seca
pra dose de vodca que morre junto com o rim.

é chegada a hora
grande irmão
grande covarde
grande veado sem volta pra casa

um brinde
álcool na ferida
goza de uma vez!
uma dose de cada vez

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

never know

Oh, kiss me
Lick your cigarette then kiss me
Kiss me where your eye won't meet me
Meet me where your mind won't kiss me
Lick your eyes and mind and then hit me
Hit me with your eyes so sweetly