terça-feira, 30 de agosto de 2011

the difference in the shades

Do you see the difference in the shades?
But the green's still close to green, my love
And I believe we are the same
And we'll stay like this, all gold and green
Light collects and projects your heart on a movie screen
And if you close your eyes we will always be
The way we were that night you crawled inside of me

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

sobre o sorriso de Gatsby

Era um desses sorrisos raros que têm em si algo de segurança eterna, um desses sorrisos com que a gente talvez depare quatro ou cinco vezes na vida. Um sorriso que, por um momento, encarava - ou parecia encarar - todo o mundo eterno, e que depois se concentrava na gente com irresistível expressão de parcialidade a nosso favor. Um sorriso que compreendia a gente até o ponto em que a gente queria ser compreendido, que acreditava na gente como a gente gostaria de acreditar, assegurando-nos que tinha da gente exatamente a impressão que a gente, na melhor das hipóteses, esperava causar.

Fitzgerald

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Cantiga de Enganar

O mundo não vale o mundo, meu bem.
Eu plantei um pé-de-sono,
brotaram vinte roseiras.
Se me cortei nelas todas
e se todas me tingiram
de um vago sangue jorrado
ao capricho dos espinhos,
não foi culpa de ninguém.
O mundo, meu bem, não vale
a pena, e a face serena
vale a face torturada.
Há muito aprendi a rir,
de quê? de mim? ou de nada?
O mundo, valer não vale.
Tal como sombra no vale,
a vida baixa... e se sobe
algum som deste declive,
não é grito de pastor
convocando seu rebanho.
Não é flauta, não é canto
de amoroso desencanto.
Não é suspiro de grilo,
voz noturna de correntes,
não é mãe chamando filho,
não é silvo de serpentes
esquecidas de morder
como abstratas ao luar.
Não é choro de criança
para um homem se formar.

(...)

Não é nem isto, nem nada.
É som que precede a música,
sobrante dos desencontros
e dos encontros fortuitos,
dos malencontros e das
miragens que se condensam
ou que se dissolvem noutras
absurdas figurações.
O mundo não tem sentido.
O mundo e suas canções
de timbre mais comovido
estão calados, e a fala
que de uma para outra sala
ouvimos em certo instante
é silêncio que faz eco
e que volta a ser silêncio
no negrume circundante.
Silêncio: que quer dizer?
Que diz a boca do mundo?
Meu bem, o mundo é fechado,
se não for antes vazio.
O mundo é talvez: e é só.
Talvez nem seja talvez.
O mundo não vale a pena,
mas a pena não existe.
Meu bem, façamos de conta.
de sofrer e de olvidar,
de lembrar e de fruir,
de escolher nossas lembranças
e revertê-las, acaso
se lembrem demais em nós.
Façamos, meu bem, de conta
— mas a conta não existe —
que é tudo como se fosse,
ou que, se fora, não era.
Meu bem, usemos palavras.
façamos mundos: ideias.
Deixemos o mundo aos outros
já que o querem gastar.
Meu bem, sejamos fortíssimos
— mas a força não existe —
e na mais pura mentira
do mundo que se desmente,
recortemos nossa imagem,
mais ilusória que tudo,
pois haverá maior falso
que imaginar-se alguém vivo,
como se um sonho pudesse
dar-nos o gosto do sonho?
Mas o sonho não existe.
Meu bem, assim acordados,
assim lúcidos, severos,
ou assim abandonados,
deixando-nos à deriva
levar na palma do tempo
— mas o tempo não existe,
sejamos como se fôramos
num mundo que fosse: o Mundo.

domingo, 21 de agosto de 2011

the end of a love story listening to the kinks

on a sunday afternoon
everything is fine
you take what's yours
and I take what's mine
then you go away
we don't even say good-bye.

when I feel down I listen to some post-punk songs
and then I get worse.

sábado, 20 de agosto de 2011

kerouac sobre o amor

"E entao eles contaram a voce sobre o amor, nao contaram? Mas agora voce ja deveria saber, na verdade, que é impossivel amar em meio a tanta noite congelada e infelicidade (…) sem duvida em algum momento voce vai se dar conta que o amor é apenas uma palavra para descrever a frivolidade com elogios e mentiras que faz voce se sentir melhor por um momento."

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

E aos 65 anos, sento aqui esperando a morte chegar.
Lembro quando lia bukowski na minha adolesencia e almejava ser um escritor. O mais perto que consegui chegar foi apostar nos cavalos do jogo do bicho às quartas-feiras.
Hoje levanto de manhã, tomo café, vou ao bar, jogo umas partidas de baralho, como um torresmo, volto pra casa, bebo pinga antes do almoço, almoço, e tiro um cochilo pra voltar ao bar dessa vez pra assistir tv e conversar com alguns amigos antigos que não me escutam mais.
Chego sempre antes da primeira novela começar, e vou dormir depois de mudar de canal insistentemente algumas vezes.
Tranco as portas da casa, apago as luzes, vou ao meu ritual noturno e deito esperando o proximo dia. às vezes nem durmo.
E entao tem dia que resolvo escrever, mas não há o que falar.
Não conheço pessoas novas ha muito tempo, nao tenho mais contato com meus filhos ou netos... e minha mulher morreu sem me deixar muita coisa pra contar, além de algumas dividas e os sonhos que tinhamos e nao realizamos.

outubro/10

migraine

throwing my belly down
to the dirty streets of
the dirty town.

waking up without bright
pretending a good ending for
my last night.

excuse yourself
demaging
acting
loving
spoiling

forgiving myself
carrying on
without pain.

janeiro/11

o maior poema de todos os tempos

Sentei aqui para escrever
o maior poema de todos os tempos.
abri uma cerveja,
acendi o cigarro e só
depois lembrei de abrir a janela.
a noite está quente
como o vão das pernas das garotas
e a lua brilha
no ceu limpo de outono,
os rapazes bebem um pouco mais
de qualquer coisa
que aqueça o peito vazio
de quem vive por aí só por viver.
Eu ouço umas canções tristes
boas pra dançar sozinho
e lembro dos amores perdidos
num mundo mais perdido ainda
do que as ideias da cabeça
de quem já não é mais.
e divagando assim
na noite longa e sem sinal de melhora
percebo que de real
só a morte do poema
que nem chegou a existir.

abril/11

04-06-2011

é sabado às 7 da manhã


e posso ver os bebados chegando em casa


sem precisar se preocupar


com nada


enquanto esperam a ressaca matadora


ataca-los


sem piedade


no sabado a tarde


que tem como sucessao o domingo


enquanto meu avo cozinha feijões


e eu vou trabalhar.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

after hours

If you close the door, the night could last forever
Keep the sunshine out and say hello to never
All the people are dancing and they're havin such fun
I wish it could happen to me
but if you close the door, I'd never have to see the day again.
If you close the door, the night could last forever,
Leave the wineglass out and drink a toast to never
Oh, someday I know someone will look into my eyes
and say hello -- you're my very special one--
but if you close the door, I'd never have to see the day again.
Dark cloudy bars
Shiny Cadillac cars
and the people on subways and trains
Looking gray in the rain
As they stand disarrayed
All the people look well in the dark
And if you close the door, the night could last
forever.
Leave the sunshine out and say hello to never
all the people are dancing and they're having such fun
I wish it could happen to me
'Cause if you close the door, I'd never have to see the day again.
I'd never have to see the day again.
(once more)
I'd never have to see the day again.

The Velvet Underground

você não é insone, por renmero.

Acordou , sentou na ponta do colchão e tomou impulso para ficar de pé. Era a quarta vez na noite, duas em menos de trinta minutos, pensou ele enquanto ela abria a porta e saía.

A casa era grande demais para os dois e desde que começaram a sair juntos, acostumaram-se rapidamente com a falta de sono que sentiam de vez em quando. Por vezes era ele que ficava jogando videogame com fones de ouvido sentado quase na varanda, para a fumaça do beck não ficar toda na sala. Outras era ela que digitava furiosamente no laptop, no quarto que usavam de escritório e onde ficava a mesa que mandou instalar para poder trabalhar de pé. Sabiam que o sono naquela casa era frágil e respeitavam ao máximo a insônia alheia.Descobriram que possuíam o mesmo tipo de sono nas primeiras vezes em que dormiram juntos. Ou que tentaram. Naquelas primeiras noites em que só concordavam ir dormir após estarem cansados até o limite, era uma surpresa pros dois quando se viam acordados e se encarando minutos depois de tentarem ir dormir.

Só serviu para aproximá-los mais. Quando um perdia o sono, o outro ia cuidadosamente na cozinha, preparava um sanduíche com presunto, queijo branco e maionese (o dela era com salame e requeijão) e deixava um bilhete antes de voltar a dormir. Ele gastou meses de insônia traduzindo um conto do alemão que ela queria ler. E ele nem falava alemão. Durante uma semana particularmente difícil, ela organizou toda a coleção de mp3 dos laptops e hds externos da casa, com capas, tags corretas e até um sistema de estilos próprio que excluía qualquer coisa com post- no começo ou experimental no meio.

Certa madrugada, ele estava rangendo os dentes e sentado com a cara quase enfiada na tela do enorme monitor de LCD que usava para jogar videogame. Era mais uma daquelas partes dos jogos em que o chefão é uma merda de matar. Tem que esperar ele atacar, desviar em um só movimento lateral e acertar corretamente no ponto iluminado nas costas dele antes que ele vire novamente. Essa dança aparentemente simples tem que ser realizada vez após vez, sem perder um milímetro de precisão.

Toda vez que ficava preso ou enrolado em um jogo, ele começava a pensar nos moleques de 11 anos que estariam rindo dele naquele momento, passando por essas partes que lhe pareciam intransponíveis como se o desafio nem fosse digno de consideração. Ela nunca entendia a razão daquele tipo de mentalidade, que gerava uma competição desnecessária entre gerações. Os moleques de onze anos sempre serão melhores, ela dizia.

Após oitava tentativa frustrada consecutiva, ele tascou o controle pela janela. Imediatamente se arrependeu, esfregando os dedos nas mãos vazias sentindo falta da presença do controle branco suado. O barulho que entrou pela janela foi um créq abafado, ele nem quis ir ver o que aconteceu. Era muito raro para ele chegar nesse estado de raiva. Sempre aboliu comportamentos que instigassem ódio ou fúria, aprendeu com o tempo (e com a adolescência) a não precisar ficar com raiva das coisas. Não gostava e não via serventia naquilo.

Ela acordou no exato momento do créq e dos três cenários que pensou naquele momento (1- alguém abriu a porta da cozinha com força, 2- ele havia derrubado algo frágil, como um fone de ouvido ou controle de tv, no chão e 3- algo havia caído pela janela da sala) sabia que teria de ser o que envolvia o exterior da casa. O barulho foi longe demais para ser ali dentro, por maior que a casa fosse. Levantou, calçou as havaianas dele, e foi até a sala acordando aos poucos.

“Esse barulho foi aqui?”
“Foi, desculpa te acordar, fui eu.”
O monitor enorme continuava ligado na frente dele, com o aviso de por favor reconecte o controle aparecendo.
“Aconteceu alguma coisa?”
“Fiquei puto e sem querer joguei o controle pela varanda”
A varanda era um pouco longe demais para entrar na categoria do “foi sem querer”, ela pensou. Mas ficou calada.
“Hum rum, e cê tá bem? Quer alguma coisa–”
“Desculpa te acordar, tava foda passar dessa parte aqui e fiz merda”
Ele continuava sentado na mesma posição, encarando a tela ou o chão, com os cotovelos em cima dos joelhos, passando as mãos no rosto e na nuca.

Ela ficou em pé na varanda, procurando o lugar onde o controle havia caído. Dava pra ver os pedaços brancos espalhados pelo chão ao lado de um carro preto desses mini-van. Pelo menos não tinha acertado nada. Uma queda do quarto andar em cima de um carro teria feito algum estrago. Precisariam de um controle novo. Sentou ao lado dele e passou o braço direito em suas costas. Muito do que acontecia com os dois era silencioso, era entrelinha. No começo do relacionamento costumavam falar por horas e dias e meses. Hoje ficavam calados, observando um ao outro como se estivessem em uma jaula e não houvesse outra opção.

“Sabe”, ele sempre começava seus monólogos com um sabe, “tem madrugadas que fico aqui jogando videogame, tomando uma cerveja e olhando de vez em quando pela varanda. E tem madrugadas em que faço tudo isso, mas só consigo pensar em ti. A sensação de te ter dormindo ali quietinha enquanto estou aqui tentando achar o meu sono é muito boa. Será que isso é normal? O jeito como a gente vive? Faz muito tempo que a não gastamos uma madrugada apenas conversando um com o outro. Entramos na fase do subentendido, né? Essa é a evolução natural, é assim que seremos? Aqueles casais que não trocam palavras, mas que antecipam com detalhismo absurdo as ações um do outro? Não que isso seja algo ruim, pelo contrário. Esse pensamento acabou de me pegar agora, quando estava puto com um videogame besta e só a tua mera presença aqui na sala, indo olhar a varanda e me fitando com ares de que vamos precisar de um controle novo, me acalmou. Acho que estou dependente de ti, muito mais do que costumava pensar que era, do que quero admitir que estou. Não é um pouco assustador isso? Parece que envelhecemos rápido demais, pulamos décadas e décadas de convivência e alcançamos um platô que parece reservado apenas para casais mais velhos e que já cometeram sua parcela de crimes juntos. Acho que quero casar contigo.”

Ela sabia que o romantismo exacerbado dele muitas vezes era sincero. “Estamos fazendo a parte mais difícil agora, os anos de silêncio. As brigas sem rompantes. Já somos casados, meu bem”.

E assim eles viraram um desses casais que não aparentam nem terem existido separadamente antes de serem um casal.


desse link

quarta-feira, 10 de agosto de 2011



So in America when the sun goes down and I sit on the old broken-down river pier watching the long, long skies over New Jersey and sense all that raw land that rolls in one unbelievable huge bulge over to the West Coast, and all that road going, all the people dreaming in the immensity of it, and in Iowa I know by now the children must be crying in the land where they let the children cry, and tonight the stars’ll be out, and don’t you know that God is Pooh Bear? the evening star must be drooping and shedding her sparkler dims on the prairie, which is just before the coming of complete night that blesses the earth, darkens all rivers, cups the peaks and folds the final shore in, and nobody, nobody knows what’s going to happen to anybody besides the forlorn rags of growing old, I think of Dean Moriarty, I even think of Old Dean Moriarty the father we never found, I think of Dean Moriarty.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

a note from Ham on Rye

“'Every time I see you you have a drink in your hand. You can that protecting yourself?'

'It’s the best way I know. Without drink I would have long ago cut my god-damned throat.'

'That’s bullshit.'

'Nothing’s bullshit that works. The Pershing Square preachers have their God. I have the blood of my god!'

I raised my glass and drained it.

'You’re just hiding from reality,' Becker said.

'Why not?'

'You’ll never be a writer if you hide from reality.'

'What are you talking about? That’s what writers do!'”


bukowski

Coffee

Sometimes life is merely a matter of coffee and whatever intimacy a cup of coffee
affords. I once read something about coffee. The thing said that coffee is good for you;
it stimulates all the organs.
I thought at first this was a strange way to put it, and not altogether pleasant, but
as time goes by I have found out that it makes sense in its own limited way. I'll tell you
what I mean.
Yesterday morning I went over to see a girl. I like her. Whatever we had going for us
is gone now. She does not care for me. I blew it and wish I hadn't.
I rang the door bell and waited on the stairs. I could hear her moving around upstairs.
The way she moved I could tell that she was getting up. I had awakened her.
Then she came down the stairs. I could feel her approach in my stomach. Every step she
took stirred my feelings and lead indirectly to her opening the door. She saw me and it
did not please her.
Once upon a time it pleased her very much, last week. I wonder where it went,
pretending to be naive.
"I feel strange now," she said. "I don't want to talk."
"I want a cup of coffee," I said, because it was the last thing in the world
that I wanted. I said it in such a way that it sounded as if I were reading her a telegram
from somebody else, a person who really wanted a cup of coffee, who cared about nothing
else.
"All right," she said.
I followed her up the stairs. It was ridiculous. She had just put some clothes on. They
had not quite adjusted themselves to her body. I could tell you about her ass. We went
into the kitchen.
She took a jar of instant coffee off the shelf and put it on the table. She placed a
cup next to it, and a spoon. I looked at them. She put a pan full of water on the stove
and turned the gas on under it.
All this time she did not say a word. Her clothes adjusted themselves to her body. I
won't. She left the kitchen.
Then she went down the stairs and outside to see if she had any mail. I didn't remember
seeing any. She came back up the stairs and went into another room. She closed the door
after her. I looked at the pan full of water on the stove.
I knew that it would take a year before the water started to boil. It was now October
and there was too much water in the pan. That was the problem. I threw half of the water
into the sink.
The water would boil faster now. It would take only six months. The house was quiet.
I looked out the back porch. There were sacks of garbage there. I stared at the garbage
and tried to figure out what she had been eating lately by studying the containers and
peelings and stuff. I couldn't tell a thing.
It was now March. The water started to boil. I was pleased by this.
I looked at the table. There was the jar of instant coffee, the empty cup and the spoon
all laid out like a funeral service. These are the things that you need to make a cup of
coffee.
When I left the house ten minutes later, the cup of coffee safely inside me like a
grave, I said, "Thank you for the cup of coffee."
"You're welcome," she said. Her voice came from behind a closed door. Her
voice sounded like another telegram. It was really time for me to leave.
I spent the rest of the day not making coffee. It was a comfort. And evening came, I
had dinner in a restaurant and went to a bar. I had some drinks and talked to some people.
We were bar people and said bar things. None of them remembered, and the bar closed. It
was two o'clock in the morning. I had to go outside. It was foggy and cold in San
Francisco. I wondered about the fog and felt very human and exposed.
I decided to go visit another girl. We had not been friends for over a year. Once we
were very close. I wondered what she was thinking about now.
I went to her house. She didn't have a door bell. That was a small victory. One must
keep track of all the small victories. I do, anyway.
She answered the door. She was holding a robe in front of her. She didn't believe that
she was seeing me. "What do you want?" she said, believing now that she was
seeing me. I walked right into the house.
She turned and closed the door in such a way that I could see her profile. She had not
bothered to wrap the robe completely around herself. She was just holding the robe in
front of herself.
I could see an unbroken line of body running from her head to her feet. It looked kind
of strange. Perhaps because it was so late at night.
"What do you want?" she said.
"I want a cup of coffee," I said. What a funny thing to say, to say again for
a cup of coffee was not what I really wanted.
She looked at me and wheeled slightly on the profile. She was not pleased to see me.
Let the AMA tell us that time heals. I looked at the unbroken line of her body.
"Why don't you have a cup of coffee with me?" I said. "I feel like
talking to you. We haven't talked for a long time."
She looked at me and wheeled slightly on the profile. I stared at the unbroken line of
her body. This was not good.
"It's too late," she said. "I have to get up in the morning. If you want
a cup of coffee, there's instant in the kitchen. I have to go to bed."
The kitchen light was on. I looked down the hall into the kitchen. I didn't feel like
going into the kitchen and having another cup of coffee by myself. I didn't feel like
going to anybody else's house and asking them for a cup of coffee.
I realized that the day had been committed to a very strange pilgrimage, and I had not
planned it that way. At least the jar of instant coffee was not on the table, beside an
empty white cup and a spoon.
They say in the spring a young man's fancy turns to thoughts of love. Perhaps if he has
enough time left over, his fancy can even make room for a cup of coffee.

Richard Brautigan

domingo, 7 de agosto de 2011

What's the matter with the boy?

Batia sol no apartamento o dia todo, fosse natural ou refletido pelas janelas espelhadas do prédio gigante na frente do meu que tampava toda a visão da cidade.
Era insuportável passar a tarde lá dentro, mas como eu nunca o fazia, nem sei como soube que era tão insuportável; talvez instinto, ou talvez pelo morninho quando eu chegava a noite após o trabalho.
Nenhuma flor sobrevivia ao dia abafado, então meu apartamento era um pouco morto. Minha TV não era ligada há dias, e eu quase nunca tirava o pó da estante de livros - que também tinha uns souvenirs de lugares que nunca estive.
Eu trabalhava o dia todo e a única coisa que me orgulhava era ter a geladeira cheia de cerveja todo dia, pra receber quem fosse me visitar, coisa que raramente acontecia.
Um dia Ana, a garota da faculdade, apareceu. Não por sorte tinha muita cerveja pra passarmos a noite, já que eu nunca sabia sobre o que conversar e disfarçava tomando longos goles de cerveja enquanto ela dissertava sobre sua vida.
Tinha acabado de voltar dos Estados Unidos, onde tinha ido passar as férias. Disse que chegou e foi direto pra São Francisco,. Me trouxe um souvenir, e eu o coloquei junto dos outros depois que ela foi embora.
Enquanto ela estava lá acendi um cigarro pra ela se sentir a vontade e acender o dela. Seu isqueiro era dos rolling stones e naquele momento me lembrei porque não queria que ela fosse me visitar nunca.
Ana namorava meu melhor amigo e eu era perdidamente apaixonado por ela. No primeiro dia de aula da faculdade ela foi com uma camiseta dos stones e eu tinha acabado de chegar de uma cidade em que ninguém conhecia o keith richards. Claro que achei que iríamos nos casar porque ela era a única garota do mundo que ouvia rolling stones.
Foram semanas até que ela terminasse com o Pedro. Mas eu nao tive coragem de me aproximar assim, de sopetão, e acabamos virando amigos.
Ela me contava de suas aventuras pelas noites de São Paulo e tudo que eu queria é que ela fosse beber cerveja no meu apartamento. Nunca contei pra ela minhas reais intensões, e entao ela começou a namorar um babaca do direito que também não devia saber quem o Keith Richards era.
Me conformei - como costuma acontecer sempre - e fiquei em casa um tempo ouvindo tudo, menos exile on main street e seus derivados. Bebia mais que o normal, e me acostumei a ficar sozinho olhando a janela procurando garotas vestindo camisetas de bandas que eu gostava. Parava pra conversar com toda menina que passava por mim e vestia Velvet Underground ou Beach Boys, e não eram poucas. Algumas acabaram no meu apartamento, bebendo cerveja e ouvindo suas bandas favoritas, fumando na janela observando tantas outras garotas.
Uma delas era bem bacana, assistíamos a filmes e falávamos sobre como nossos herois morreram, e eles eram os mesmos e nunca estiveram nos quadrinhos. saiamos juntos domingo a tarde e compravamos discos e tomavamos cafe da manha de ressaca. Ela era mesmo uma garota legal e eu nao conseguia me lembrar porque nao tinhamos dado certo, até aquele momento.
Julia, a garota dos filmes, passou por mim com uma camiseta dos smiths e eu me apaixonei na hora. Depois de uns meses saindo juntos, ela me deu um isqueiro dos stones. Pronto, não conseguia mais. a unica garota do mundo que gostava de stones era a Ana, e eu lhe dei de presente o isqueiro que ganhei, que nao queria usar nem guardar na minha estante.
Foi como uma despedida, Ana foi morar em outro país e nunca mais nos vimos. E agora ela estava ali, na minha frente, acendendo um Lucky Strike com o isqueiro que eu havia ganhado e tinha lhe dado como se fosse meu coração.
Inventei alguma desculpa e pedi pra que ela fosse embora. Ela não entendeu, mas foi. Assim que Ana bateu a porta eu peguei meu album favorito de todos os tempos pra tocar e deitei na cama ouvindo rocks off.
Nenhuma garota valia aquele disco, eu tinha certeza. E dormi cantarolando And I only get my rocks off while I'm dreaming, I only get my rocks off while I'm sleeping.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Viajante Solitário, Kerouac.

FINALMENTE AS CHUVAS DE OUTONO, noites inteiras de chuvas torrenciais sopradas pelo vento enquanto eu deitava aquecido como uma torrada dentro do meu saco de dormir, e claros dias outonais gélidos e turbulentos, com vento forte, nevoeiros céleres, nuvens velozes, brilho de sol súbito, luz pristina em retalhos da montanha, e meu fogo crepitando enquanto eu exulto e canto a toda voz. – Do lado de fora da minha janela um esquilo varrido pelo vento está sentado nas patas traseiras sobre uma rocha, mãos unidas, mordisca uma espiga de aveia que segura entre as patas – pequeno senhor de tudo o que inspeciona.

Pensando nas estrelas noite após noite começo a perceber que “As estrelas são palavras” e todos os incontáveis mundos da Via Láctea são palavras, e esse mundo também o é. E percebo que não importa onde eu esteja, seja em um quartinho repleto de idéias ou nesse universo infinito de estrelas e montanhas, tudo está na minha mente. Não há necessidade de solidão. Por isso, ame a vida pelo que ela é e não forme idéias preconcebidas de espécie alguma em sua mente.

QUE ESTRANHOS E DOCES PENSAMENTOS brotam nas solidões montanhosas! – Certa noite percebi que, quando tratamos as pessoas com compreensão e estímulo, uma expressão de humildade estranha e infantil lhes perpassa os olhos envergonhados, não importa o que estivessem fazendo, não estavam certas de que fosse correto – cordeirinhos espalhados por toda a face desta terra.

Visto que, ao compreender que Deus é Tudo, você percebe que deve amar tudo por pior que seja, em última análise nada é bom nem mau (pense na poeira), é apenas o que é, ou seja, o que se faz parecer. – Uma espécie de drama para ensinar algo a alguma coisa, alguma “substância menosprezada do mais divino dos shows”.

E percebi que não era necessário me esconder na desolação e que podia aceitar a sociedade para o que desse e viesse, como uma esposa – vi que, se não fosse pelos seis sentidos, visão, audição, olfato, tato, gosto e pensamento, a individualidade disso tudo, que é não-existente, simplesmente não haveria nenhum fenômeno para apreender, na verdade não haveria seis sentidos nem individualidade. – O medo da extinção é muito pior do que a própria extinção (a morte). – Perseguir a extinção no velho sentido nirvânico do budismo é em última análise uma bobagem, como os mortos indicam no silêncio de seu sono bem-aventurado na Mãe Terra que, de qualquer maneira, é um Anjo suspenso no Céu.

Eu simplesmente me deitava nos campos da montanha ao luar, com a cabeça na grama, e ouvia o reconhecimento silencioso das minhas angústias passageiras. – Sim, desse modo, tentar atingir o Nirvana quando você já está nele, atingir o topo de uma montanha quando já está lá e tem apenas que permanecer – assim, permanecer na bem-aventurança nirvânica é tudo o que tenho a fazer, que você tem a fazer, sem esforço, sem caminho realmente, sem disciplina, mas apenas saber que tudo é vazio e desperto, uma Visão e um Filme na Mente Universal de Deus (Alaya-Vijnana) e permanecer mais ou menos sabiamente em meio a isso. – Porque o silêncio em si é o som dos diamantes que podem cortar tudo, o som da Vacuidade Sagrada, o som da extinção e da bem-aventurança, esse silêncio de cemitério que é como o silêncio do sorriso de um bebê, o som da eternidade, da beatitude na qual certamente é preciso acreditar, o som de jamais-houve-nada-senão-Deus (que em breve eu ouviria em uma ruidosa tempestade no Atlântico). – O que existe é Deus em Sua Emanação, o que não existe é Deus na Sua serena Neutralidade, o que nem existe nem não existe é a divina e imortal aurora primordial do Céu Pai (este mundo neste exato instante). – Por isso eu disse: – “Permaneça nisso, aqui não existem dimensões para quaisquer das montanhas ou mosquitos ou vias lácteas inteiras de mundos”.

Porque sensação é vazio, envelhecimento é vazio. – Tudo é apenas a Dourada Eternidade da Mente de Deus; por isso pratique a bondade e a compreensão, lembre que os homens não são responsáveis por si mesmos, por sua ignorância e maldade, se deve ter pena deles, Deus se compadece porque o que há para dizer a respeito de qualquer coisa visto que tudo é apenas o que é, livre de interpretações? – Deus não é “aquele que alcança”, ele é o “viajante” naquilo em que tudo é, o “que subsiste” – uma lagarta, mil cabelos de Deus. – Portanto, saiba sempre que isto é apenas você, Deus, vazio, desperto e eternamente livre como os incontáveis átomos da vacuidade em todos os lugares.

Decidi que, quando retornasse ao mundo lá embaixo, tentaria manter minha mente límpida em meio às obscuras idéias humanas que fumegam como fábricas no horizonte através do qual eu caminharia, em frente…

Em setembro, quando desci, um gélido aspecto dourado surgira na floresta como um augúrio de frios repentinos, geadas e eventuais nevascas uivantes que cobririam meu barraco por completo a não ser que aqueles ventos do topo do mundo a conservassem intacta. Quando cheguei à curva da trilha onde meu barraco desapareceria e eu desceria até o lago para encontrar o barco que me levaria dali para casa, me virei e abençoei o Pico da Desolação e o pequeno pagode no cume e agradeci a eles pelo abrigo e pela lição que me ensinaram.

"While you were sitting in the backseat smoking a cigarette you thought was gonna be your last, I was falling deep, deeply in love with you, and I never told you til just now."