Maria Eduarda estava voltando pra casa depois de uma noitada, no trem das meia noite e vinte e seis. Estava sonolenta, passara o dia todo perambulando à procura de um amor, que não encontrara.
Sentou no acento preferencial, que nunca tinham velhos, já que estes se recusavam a arriscar suas vidas no novo meio de transporte.
Estava quase dormindo quando um senhor entrou e sentou ao seu lado. Achou estranho ver um homem, daquela idade, entrando pela porta de vidro que não fazia ruído nenhum ao abrir.
Ele carregava um violão velho e tinha os óculos de ouro. Ela o encarou e disse: João, quanto tempo!
Ele olhou pra ela, meio tímido, e só sorriu. Encarou o violão torcendo pra que Maria não puxasse assunto. Maria continuou.
"gosto muito daquela música, em que você canta sobre A Felicidade"
"é a que as pessoas mais gostam, vou te dizer."
Maria encarou os reflexos na janela, e quis chorar. Sabia que a música era uma das mais verdadeiras que já ouvira, e não parava de cantarolar.
Ficou pensando no que seria da sua vida se a felicidade que ela tanto procurava passasse rapido demais, fazendo não valer o sacrifício.
Há muito havia esquecido o que era ter momentos alegres, já que procurava, sem sucesso, a plenitude.
Maria leu uma vez que nunca estamos satisfeitos. É preciso estar muito triste ou em êxtase, o que fazia um sentido absurdo, e era como uma lei que regia a existência humana (se não humana, só dela e do autor da frase)
Pensou em quantos momentos perdera por pensar que melhores viriam e pensou em quantas pessoas deixara de lado, achando que encontraria outras tantas melhores.
Ouviu o sinal de que a estação havia chegado, olhou pro lado e João já havia sumido.
Até hoje Maria não sabe se o nome do único senhor do trem bala era João, mas jurava que o ouvira cantando "tristeza não tem fim, felicidade sim" enquanto ela encarava os reflexos.
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