Encolhida bem no meio: no meio da cama, no meio do quarto, no meio da vida. Estava entre o som e o eco. Na intensidade da eternidade do efêmero.
Nostalgia flamejante que entrava quente junto com o Sol que invadia o aposento pela janela e ela pelos olhos. Não sabia - e nem queria saber - que horas eram.
Desde que se conhecia por gente o pote de nescafé ficava no vasculhante da cozinha, junto com as caixinhas de palito de dente e outras tantas de palito de fósforo, que só eram úteis quando a energia acabava e era preciso acender velas.
Um apartamento no meio do caos desde que saíra de casa pra 'ganhar a vida'. Trouxera algumas manias de criança, pena que esqueceu a inocência em casa.
Tanta cultura a ser desfrutada e ela não tinha tempo pra nada, só pra pensar em ganhar dinheiro pra poder aproveitar o tempo precioso mais tarde. Mal sabia que o mais tarde era tarde demais. Tinha uma pequena noção, mas desacreditava, outra coisa que deixou para as crianças: a certeza é o agora.
Acordar, tomar banho escovando os dentes, café da manhã era luxo; correria. Ônibus, metrô, caras desconhecidas. Calçadas, sujeira, pernas. Uma bebida aqui, um amor qualquer ali. Luxúria era só mais um pecado capital. Lembrava muito pouco; nomes então, nunca os guardava. Não sabia se gostava de machos ou de fêmeas. Amigos de vez enquando. Pão na chapa e um cafézinho.
O homem da sua vida ficou na cidadezinha de onde veio. O nome dele ela lembrava. Lembrava do nome e dos olhos e do sorriso e de todo o resto, nos mínimos detalhes.
A cabeça latejava... não devia ter bebido tanto. Era dia de semana, dia de trabalhar e não de sair. Sabia desde sempre que era fraca para conhaque. Devia ter ficado só no vinho. Ou será que foi a coisa parecida com maizena? Não ia se levantar. Tiraram o nescafé de lá! então ela não precisava ser a mesma... não até colocarem o nescafé no seu devido lugar.
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