Tava um sol dos infernos.
Eram 4 e pouco da tarde e minhas pernas de fora deviam assustar as pessoas.
Criei coragem e comecei a subir as escadas quando helter skelter começou a rolar no meu celular.
Antes mesmo de atingir o 5º degrau ele gritou lá de cima. Lá de cima, onde existe uma igreja imponente que observa toda a cidade.
Ele gritou pra eu parar. Eu parei e ele veio até mim de braços abertos... largamente abertos, como de costume.
Aquele sorriso bonito me chamou pra tomar umas cervejas.
Colamos num dos bares mais podres da cidade, e bebemos como um casal feliz e descontraído sem grandes problemas... por mais que ele estivesse louco por maconha e eu estivesse me escondendo dos meus pais.
Foi engraçado atravessar a cidade... eu com as pernas e ele com as costas de fora. Atravessar a cidade rindo e balbuciando palavras soltas que, pra qualquer outro, não tinham significado algum.
Nenhum rosto reconhecível passou por mim... eu só tinha olhos pros olhos verdes mais castanhos do mundo. Eu só tinha olhos pro caminho torto e pros olhos.
As pessoas tortas não tinham importância. Nunca tiveram e nunca mais vão ter.
Terminamos nosso cigarro. Mais um dos nossos últimos cigarros.
ele disse que eu era a culpa pela volta. Eu disse que a culpa era toda dele.
Nos amamos nos olhares entorpecidos por alguns momentos até que nos chamaram pra entrar.
Os músculos dele dançam e o dia corre. Eu aguardo coisas boas de tudo isso. Mas sem grandes expectativas pra não gerarem desapontamentos. Eu to cansada de desapontamento. No momento, só amor.
E bem que podia ser verdade.
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