domingo, 7 de agosto de 2011

What's the matter with the boy?

Batia sol no apartamento o dia todo, fosse natural ou refletido pelas janelas espelhadas do prédio gigante na frente do meu que tampava toda a visão da cidade.
Era insuportável passar a tarde lá dentro, mas como eu nunca o fazia, nem sei como soube que era tão insuportável; talvez instinto, ou talvez pelo morninho quando eu chegava a noite após o trabalho.
Nenhuma flor sobrevivia ao dia abafado, então meu apartamento era um pouco morto. Minha TV não era ligada há dias, e eu quase nunca tirava o pó da estante de livros - que também tinha uns souvenirs de lugares que nunca estive.
Eu trabalhava o dia todo e a única coisa que me orgulhava era ter a geladeira cheia de cerveja todo dia, pra receber quem fosse me visitar, coisa que raramente acontecia.
Um dia Ana, a garota da faculdade, apareceu. Não por sorte tinha muita cerveja pra passarmos a noite, já que eu nunca sabia sobre o que conversar e disfarçava tomando longos goles de cerveja enquanto ela dissertava sobre sua vida.
Tinha acabado de voltar dos Estados Unidos, onde tinha ido passar as férias. Disse que chegou e foi direto pra São Francisco,. Me trouxe um souvenir, e eu o coloquei junto dos outros depois que ela foi embora.
Enquanto ela estava lá acendi um cigarro pra ela se sentir a vontade e acender o dela. Seu isqueiro era dos rolling stones e naquele momento me lembrei porque não queria que ela fosse me visitar nunca.
Ana namorava meu melhor amigo e eu era perdidamente apaixonado por ela. No primeiro dia de aula da faculdade ela foi com uma camiseta dos stones e eu tinha acabado de chegar de uma cidade em que ninguém conhecia o keith richards. Claro que achei que iríamos nos casar porque ela era a única garota do mundo que ouvia rolling stones.
Foram semanas até que ela terminasse com o Pedro. Mas eu nao tive coragem de me aproximar assim, de sopetão, e acabamos virando amigos.
Ela me contava de suas aventuras pelas noites de São Paulo e tudo que eu queria é que ela fosse beber cerveja no meu apartamento. Nunca contei pra ela minhas reais intensões, e entao ela começou a namorar um babaca do direito que também não devia saber quem o Keith Richards era.
Me conformei - como costuma acontecer sempre - e fiquei em casa um tempo ouvindo tudo, menos exile on main street e seus derivados. Bebia mais que o normal, e me acostumei a ficar sozinho olhando a janela procurando garotas vestindo camisetas de bandas que eu gostava. Parava pra conversar com toda menina que passava por mim e vestia Velvet Underground ou Beach Boys, e não eram poucas. Algumas acabaram no meu apartamento, bebendo cerveja e ouvindo suas bandas favoritas, fumando na janela observando tantas outras garotas.
Uma delas era bem bacana, assistíamos a filmes e falávamos sobre como nossos herois morreram, e eles eram os mesmos e nunca estiveram nos quadrinhos. saiamos juntos domingo a tarde e compravamos discos e tomavamos cafe da manha de ressaca. Ela era mesmo uma garota legal e eu nao conseguia me lembrar porque nao tinhamos dado certo, até aquele momento.
Julia, a garota dos filmes, passou por mim com uma camiseta dos smiths e eu me apaixonei na hora. Depois de uns meses saindo juntos, ela me deu um isqueiro dos stones. Pronto, não conseguia mais. a unica garota do mundo que gostava de stones era a Ana, e eu lhe dei de presente o isqueiro que ganhei, que nao queria usar nem guardar na minha estante.
Foi como uma despedida, Ana foi morar em outro país e nunca mais nos vimos. E agora ela estava ali, na minha frente, acendendo um Lucky Strike com o isqueiro que eu havia ganhado e tinha lhe dado como se fosse meu coração.
Inventei alguma desculpa e pedi pra que ela fosse embora. Ela não entendeu, mas foi. Assim que Ana bateu a porta eu peguei meu album favorito de todos os tempos pra tocar e deitei na cama ouvindo rocks off.
Nenhuma garota valia aquele disco, eu tinha certeza. E dormi cantarolando And I only get my rocks off while I'm dreaming, I only get my rocks off while I'm sleeping.

Um comentário:

Biel disse...

minha cara em. haha
beijao