É engraçado dar-se conta de que não é você que segue a vida; é o cenário que passa, correndo, como as horas que são todas suas e sem dono.
A estrada corre ao contrário, como ponteiro de relógio no espelho que te remete ao tão esperado encontro entre alma, corpo, coração, desejo. A imagem tão sincera nas primeiras horas da manhã, que no fim da noite, retorcida e suja, te joga na cara um cuspe amarelo cheio de verdade e dor.
Em uma dessas olhadas a si mesmo, qualquer um depara-se com um monstro, e joga a culpa no mundo, nas rugas, na gravidade e até mesmo em deus.
Talvez você tenha mudado. Mudado como aqueles tantos garotos e garotas, que sempre pertenceram ao mundo e às suas delicias. Talvez você esteja mudado como aquelas certezas antigas que abriram feridas tão eternas quanto vivas.
Terrível - mais terrível do que perceber-se como tudo o que há de ruim - é encarar a vida como algo longo e mortífero. Você, sim, tem todo o tempo que o mundo te deu e tem de fazer dele o tempo mais belo e efêmero.
Sabes que o amor que sinto por ti é maior do que o destinado a qualquer outro, a qualquer outra.
No meio da poeira e dos livros numa madrugada perdida entre tantas outras madrugadas de tantos outros perdidos, me deparo com incertezas e medos e fantasmas que, na verdade, nunca foram embora.
E quando raios fazem-se luz de varanda e ventos brindam em uníssono a chegada de uma nova estação, eu só queria paz. Um pouco de paz e sublime esperança. Um pouco mais de esforço. E tua companhia.
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