Arregalou os olhos cor de vidro. Visou um alto escuro, longe demais para encostar.
O corpo estava todo rígido, esticado, como se existissem milhares de cãibras o tempo todo!
"Ele é meu. Só meu. De mais ninguém!". E repetia isso à ela mesma, sem trégua, na mente anestesiada, para se convencer disto.
Não sentia nada. Só uma vontade de algo que desconhecia.
Hipnotizada, não tirava o olhar do teto preto. Não sabia distinguir se os olhos abriram-se ou se os mantinha ainda fechados.
Não sabia onde estava. Só sabia de uma coisa: Que ele era dela. Só dela. De mais ninguém.
Mas ele não pensava assim; Ninguém pensava assim, só a pobrezinha, que estava agora sob os efeitos de algo que deixou gosto de coisa amanhecida na sua boca.
Ele estava dormindo. Do lado dela. Mas ela não o sentia. Ele não se sentia.
Ah! As loucuras cometidas pelos dois juntos, pra dividir o peso. Ele roncava, mas ela não escutava. Anestesiada.
Devia ser madrugada ainda. Não entrava luz pela janela, nem por nenhum outro lugar.
Ele era um filhodaputa. Ela também, só que menos escancaradamente.
Eram uns corpos e uns copos extras que quase fodiam com tudo.
Umas outras pessoas que só existiam pra acabar com a paz deles.
Porra, por que elas não ficavam no seu devido lugar, contentando-se em deixar os outros serem felizes?
ah! e eram tantos os infortúnios que o destino preparava que não se sabia como mantinham-se em pé.
E todas aquelas garotinhas inocentemente invejosas. E ele aproveitava tudo que a vida o oferecia.
Ela não achava certo, mas também o fazia.
"Ele é meu!". Sussurrou. "Meu!".
Ele acordou. Virou pro lado.
Encostou nela.
O corpo amoleceu na mão macia, no toque suave.
"E eu sou sua!"
Ele achou estranho uma declaração tão óbvia dessas, mas gostou de saber mais um pouco que a possuía. Deu-lhe um beijo e disse que também era dela, despretensiosamente.
Ela sabia que era mentira. Ele também.
Os dois viraram e tentaram dormir.
Só uma coisa era certa: Amavam-se.
Um comentário:
mentiras sinceras...
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