sexta-feira, 16 de setembro de 2011

domingo à tarde

eu a conheci numa tarde de outubro. eu lembro o mês, a estação, a claridade, mas não consigo lembrar exatamente o dia.
eu estava tomando café da manhã de ressaca e ela chegou pra comprar cigarros. estavamos virados de alguma balada idiota e sabiamos disso. ela não me olhou de primeira, talvez porque eu não chamasse muita atenção, mas eu reparei porque ela era a única garota bonita da padaria.
o cigarro que ela queria tinha acabado, e por sorte, era o mesmo que eu fumava. eu não terminei meu café pra poder segui-la e oferecer um cigarro, como quem não quer nada e quer muito num domingo, porque todos esperam muito de um domingo.
ela aceitou envergonhada, mas acendeu com o próprio isqueiro. deu um trago demorado, como se buscasse aquilo a vida toda. me senti lisonjeado.
ela sorria o tempo todo e tinha os olhos um pouco tristes, eu ria e não acreditava que ela estava perdendo o tempo dela comigo.
ela disse que havia se perdido dos amigos, e eu disse que tinha deixado todos os meus em casa, mas eu só tinha 21 anos e amigo nenhum.
não sei porque, mas acreditava que ela seria a garota da minha vida!
não conversamos muito, ela parecia impaciente, e eu ainda estava um pouco bêbado, realmente naquele momento entre e bebice e a ressaca, que a gente se apaixona pela primeira pessoa que nos dá atenção.
tentei puxar assunto, falar sobre a noite paulistana e como o dia estava quente pruma noite fria como a anterior. ela disse que não lembrava muita coisa e que estava pensando qual metro pegar pra ir pra casa.
quis chama-la pra ir pra minha casa, logo na esquina, e mostrar minha coleção de filmes da qual eu tinha muito orgulho mas nao mostrava pra ninguem.
ela disse que gostava muito do domingo a tarde, por ser um pouco vazio. eu disse que odiava, pelo mesmo motivo.
ela me olhou receosa, mas riu por educação.
eu disse que era um idiota e contei que tinha levado um pé na bunda pouco tempo.
ela tragou, feito uma cúmplice, e ficou calada.
eu pedi desculpas e ela disse "não foi nada".
o cigarro acabou e eu peguei outro, ela disse que não precisava, me desejou bom dia e foi embora.
eu a vi caminhando em direção ao nada e imaginei quão bonita seria nossa vida. ela olhou pra trás e me alertou sobre meu cadarço. eu agradeci com um aceno besta e olhei pro chão esperando ela sumir.
e eu nem sei como ela se chamava.

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