quinta-feira, 29 de março de 2012

Vida

Eu estava apaixonado. Escrevia poemas e gravava cds imaginários pra ela. Ouvia as músicas mais românticas da historia e ensaiava diálogos cheios de amor.
Eu comprava flores e deixava murchando em casa. Escrevia post-its lembrando que todo dia era um dia a menos sem ela. Escolhia os melhores livros para dar de presentes em datas especiais, fazia seleção de restaurantes para almoçarmos juntos aos domingos, baixava filmes pra quando estivesse chovendo sábado a noite.
Comprei camiseta pra ir almoçar na casa dos pais delas, escolhi terno pro casamento da irmã, criei coragem pra avisar os amigos que finalmente eu tinha sido fisgado.
Aprendi a preparar café da manhã, troquei os lençóis do meu apartamento e comprei um quadro dos smiths pra colocar em cima da cama.
Me habituei a lavar a louça e a deixar sempre um prato congelado do freezer, caso ela viesse me visitar de surpresa. Contratei uma mulher pra tirar o pó dos móveis, peguei um tapete bonito com a minha mãe e esvaziei uma gaveta do banheiro.
Joguei fora as toalhas velhas, abria a janela todos os dias de manhã e dei um jeito nas caixas de som que estava chiando.
Organizei os discos na prateleira, limpei o histórico do computador e mudei algumas coisas de lugar.
Troquei as lâmpadas que estavam fracas, comprei gilette nova e cortei o cabelo depois de meses. Me desfiz de algumas playboys pra ela colocar algumas revistas dela, arranjei talheres novos e uma pasta de dente menos forte.
Escolhi sabonetes mais cheirosos, deixei um espaço pro shampoo dela no banheiro e abri as portas do guarda-roupa pra sair o cheiro de mofo.
Agora meu apartamento está iluminado, com cheiro de vida. E ela, ela eu nem sei onde está.

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