domingo, 29 de março de 2009

Segunda de manhã

Passando correndo pelo cascalho molhado de orvalho fresco ainda, ela sente a brisa de um novo dia acariciando-lhe as maçãs do rosto e também sente o gosto de algo inacabado tomando conta de sua saliva ainda inerte e tomada de soluços e desejo.
O dia amanhecia e suas roupas ainda estavam umidas de suor.
O arrebol tomava-lhe o olhar enquanto ela seguia num mesmo ritmo que lembrava um blues acelerado ou apenas preocupação, pois estava atrasada.
As ruas ainda estavam vazias; provavelmente, todos os transeuntes tão comuns àquele asfalto estivessem ainda dormindo, aproveitando seus últimos momentos de descanso, enquanto ela andava mais depressa, de olhos pouco abertos, atrofiados pela luz do sol ainda criança surgindo num horizonte que ela não conseguia enxergar.
Sentia-se feliz e leve, embora fosse inverno e suas roupas pesassem um bocado.
Seu nariz vermelho estava mais rubro que o normal e sua boca, ressecada por lembranças e vertigens, devaneios que a acompanhavam desde que saíra a caminho de sabe-se lá o que.
Ouviu os primeiros ruídos do dia. Carros começaram a ultrapassa-la numa velocidade surpreendente e pessoas surgiam nas bancas de jornal e nas padarias que tinham o noticiário da manhã passando em todas as tvs.
Seu coração havia desacelerado um pouco, podia agora respirar com calma e lembrar detalhadamente dos momentos passados há pouco.
Sabia que nunca mais voltaria. Ela era gato de rua, não queria ter dono.
Acabou chegando em lugar nenhum. E adormeceu.
Ela encontrara o amor da sua vida, mas preferia ter o destino como melhor amigo.

Um comentário:

Roberta Albano disse...

nossa
o conteúdo está fantástico
muito interessante o jeito e a personagem reagir a falta de controle dos sentimentos.
Ela preferia se manter só ao deixar alguém magoá-la futuramente

lindo!