terça-feira, 29 de dezembro de 2009

relatos do fim do mundo.

Essa madrugada delirei. Delirei sozinha por horas a fio deitada em minha cama, enxergando corpos que não existiam enquanto a chuva caia e me atormentava mais que meus fantasmas mais perigosos.
Não sei se fora por causa da febre (que ainda se aloja em mim) ou se fora culpa do álcool ingerido em demasia nos últimos dias.
Foi uma espécie de tormento tão forte que procurava me esconder de mim mesma, como se não existisse inimigo pior.
Eu rezei pelo pobres de alma durante a madrugada e pedi pra não estar sozinha. Em vão.
Talvez minhas únicas companhias fossem mesmo meus pensamentos perturbados e a respiração distante das pessoas mais próximas. Nada além de sons e vacuos e medos. Delirium.
Meu estômago se retorcia conforme o quarto girava. Eu abria a boca e sentia sair de mim vapor no lugar de gritos de socorro. Sussurros e nada mais.
Tateei o breu à procura de algo capaz de me salvar, em vão.
Encontrei um livro, uma garrafa d'água e acariciei minha mente que a essa hora já estava fora de mim com medo de se danificar ainda mais.
Pensei que não ia sair sã dessa madrugada terrivelmente longa e apertada. Era como se eu estivesse me afogando em meio ao tempo e me encurralasse nas paredes sem cor da noite que passava.
Levantei e pisei no chão frio. Um arrepio me subiu a espinha até atingir a nuca e me fez desmaiar sem cair por um instante.
Desci as escadas. A casa quieta, a madrugada quieta, o cão dormindo.
Acendi uma das luzes pra me orientar e lembrar de onde estava.
Liguei a tv e a deixei queimando no mudo.
Eu olhava hipnotizada pra frente enquanto minha mente descia as escadas e vinha ao meu encontro.
Lembro que, antes dela chegar, passava algo sobre pássaros na tv... e eles não cantavam.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

so you want to be a writer?

By C. Bukowski
if it doesn't come bursting out of you
in spite of everything,
don't do it.
unless it comes unasked out of your
heart and your mind and your mouth
and your gut,
don't do it.
if you have to sit for hours
staring at your computer screen
or hunched over your
typewriter
searching for words,
don't do it.
if you're doing it for money or
fame,
don't do it.
if you're doing it because you want
women in your bed,
don't do it.
if you have to sit there and
rewrite it again and again,
don't do it.
if it's hard work just thinking about doing it,
don't do it.
if you're trying to write like somebody
else,
forget about it.
if you have to wait for it to roar out of
you,
then wait patiently.
if it never does roar out of you,
do something else.
if you first have to read it to your wife
or your girlfriend or your boyfriend
or your parents or to anybody at all,
you're not ready.
don't be like so many writers,
don't be like so many thousands of
people who call themselves writers,
don't be dull and boring and
pretentious, don't be consumed with self-
love.
the libraries of the world have
yawned themselves to
sleep
over your kind.
don't add to that.
don't do it.
unless it comes out of
your soul like a rocket,
unless being still would
drive you to madness or
suicide or murder,
don't do it.
unless the sun inside you is
burning your gut,
don't do it.
when it is truly time,
and if you have been chosen,
it will do it by
itself and it will keep on doing it
until you die or it dies in you.
there is no other way.
and there never was.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

primaverão

Eu estava tentando recuperar tudo que era meu por direito.
Eu não ia pegar conquistas nem pessoas dos outros pra mim; estava seguindo pela guia justamente pra não esbarrar em ninguém.
Nunca gostei de encostar nos outros. E não gostava também que encostassem em mim, que me cutucassem achando que assim conseguiriam me tirar do caminho - mas os pobres coitados não sabiam que eu era uma pedra grande demais.
Seguimos sem rumo, à principio, torcendo só pra que não chovesse para que o espaço a ser percorrido não se tornasse escorregadio.
Nunca gostei de pessoas escorregadias com sua textura de peixe e olhos parados que não enxergavam nada, só viam e observavam e julgavam. Sempre fui rodeada por pessoas assim; por isso não gosto de rodeios, nem de bois, nem de peixes.
A chuva parecia brincar de mãos dadas com a nossa sorte, aparecendo nos momentos mais oportunos e indo embora quando percebia que iria nos atingir de alguma forma.
Observávamos o céu azul surgindo devagar e fraco pela janela embaçada pela respiração de corpos desconhecidos.
Nunca gostei de desconhecidos. Falo dos sentimentos desconhecidos, não das pessoas. Sentimentos que vem e se batem de frente com nossa cabeça esperando atingir bem fundo para nos ver cair e sorrir e depois contorcer e dormir.
Era fácil identificar os bairros pelo cheiro.
Higienópolis fedia a esgoto e a armênia, a milho.
Foi engraçado dar de cara com contrastes tão enormes num curto espaço de tempo.
Primeiro chuva e pessoas falando sobre a noite na augusta e sobre natal anti-capitalista e depois sol trazendo calor e bolivianos pobres carregando crianças por todos os lados.
Nunca parei pra pensar se gosto de discrepância, ou não. Não parei pra pensar sobre os contrastes, infelizmente. Ultimamente ando parando muito pra pensar sobre as pessoas que querem me atingir pra eu procurar uma forma de me proteger sem me igualar a elas, porque não quero retroceder e me rebaixar.
Eu vou fechar meu corpo e minha alma pra qualquer coisa de ruim que essas cabeças pequenas querem aplicar em mim e seguir meu caminho, sem fazer mal pra ninguém, passando por chuva e sol num final amarelo de primavera.
Eu vou salvar a minha essência e lamentar pelos que não o fazem e rezar pelos perdidos nesse misto de inveja e impotência que só destroi corações.
Amém.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

com licença

eu vou pegar meu copo de cerveja e falar cuspindo na cara de quem quer me ouvir sem se preocupar se são duas horas da tarde ou se já é sábado de manhã.
eu amanheci com gosto de velhice na boca e não tá na hora de deixar aranhas criarem suas teias entre meus dentes cheios de coisas pra dilacerar.
existe um mundo gigante lá fora repleto de pessoas e montanhas e como diria um dos homens da minha vida não se deve criar nenhuma espécie de preconceito na mente.
eu vou pegar o que aprendi e trancar em mim e subir com isso prum pico alto e distante onde ninguém pode me encontrar e tentar destruir minha alma de vidro e quando tudo estiver sólido o bastante eu desço e transmito num vento correndo o universo inteiro preenchendo espiritos como o meu foi preenchido.
eu vou pegar meus amores e escrever e pendurar em algum lugar pra que qualquer um possa ler e mastigar e vomitar e engolir de novo... vou buscar o que é meu sem tirar nada de ninguém.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

...

A dor insiste. Pira. Quase desmaio. Adoraria.
Olhos arregalados esforçando-se pra enxergar algo onde só existe o escuro... e o silêncio.
Chove dentro de mim, e fora só há vestígios. Céu sem cor e sem estrelas. Nuvens de chumbo. Eu grito um horror abafado. Não existe afago nem compreensão. Muito menos carinho. Só desilusão. Sozinho. Visualizo meus receios concretizando-se em atos. Personifico meus desejos e tormentos.
Meu tato no breu não funciona, tal como meu olfato e qualquer outro sentido.
É quieto demais fora de mim, tenho medo de me perder de novo. É sombrio e frio. Alucinante!
Abraços e sorrisos ausentes.
Ele pertence ao mundo e a todas as suas delicias. Eu hospedo-me na desculpa mais próxima.
Um belo contraste. Atraente e excitante. Inebriante.
Na noite desvairada e sem lua ele se perde... e eu vomito.
Gosto de tentar dormir pensando que é sincero...

de alguém distante