terça-feira, 15 de dezembro de 2009

primaverão

Eu estava tentando recuperar tudo que era meu por direito.
Eu não ia pegar conquistas nem pessoas dos outros pra mim; estava seguindo pela guia justamente pra não esbarrar em ninguém.
Nunca gostei de encostar nos outros. E não gostava também que encostassem em mim, que me cutucassem achando que assim conseguiriam me tirar do caminho - mas os pobres coitados não sabiam que eu era uma pedra grande demais.
Seguimos sem rumo, à principio, torcendo só pra que não chovesse para que o espaço a ser percorrido não se tornasse escorregadio.
Nunca gostei de pessoas escorregadias com sua textura de peixe e olhos parados que não enxergavam nada, só viam e observavam e julgavam. Sempre fui rodeada por pessoas assim; por isso não gosto de rodeios, nem de bois, nem de peixes.
A chuva parecia brincar de mãos dadas com a nossa sorte, aparecendo nos momentos mais oportunos e indo embora quando percebia que iria nos atingir de alguma forma.
Observávamos o céu azul surgindo devagar e fraco pela janela embaçada pela respiração de corpos desconhecidos.
Nunca gostei de desconhecidos. Falo dos sentimentos desconhecidos, não das pessoas. Sentimentos que vem e se batem de frente com nossa cabeça esperando atingir bem fundo para nos ver cair e sorrir e depois contorcer e dormir.
Era fácil identificar os bairros pelo cheiro.
Higienópolis fedia a esgoto e a armênia, a milho.
Foi engraçado dar de cara com contrastes tão enormes num curto espaço de tempo.
Primeiro chuva e pessoas falando sobre a noite na augusta e sobre natal anti-capitalista e depois sol trazendo calor e bolivianos pobres carregando crianças por todos os lados.
Nunca parei pra pensar se gosto de discrepância, ou não. Não parei pra pensar sobre os contrastes, infelizmente. Ultimamente ando parando muito pra pensar sobre as pessoas que querem me atingir pra eu procurar uma forma de me proteger sem me igualar a elas, porque não quero retroceder e me rebaixar.
Eu vou fechar meu corpo e minha alma pra qualquer coisa de ruim que essas cabeças pequenas querem aplicar em mim e seguir meu caminho, sem fazer mal pra ninguém, passando por chuva e sol num final amarelo de primavera.
Eu vou salvar a minha essência e lamentar pelos que não o fazem e rezar pelos perdidos nesse misto de inveja e impotência que só destroi corações.
Amém.

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