segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

um fragmento montado de "meu triste eu"


"Às vezes quando meus olhos estão vermelhos
Subo ao topo do prédio.
Caminhos cruzados nessas ruas escondidas,
Minha história recapitulada, minhas ausências e êxtases.
- O sol brilhando sobre tudo o que tenho,
num pestanejar para o horizonte,
na minha ultima eternidade – a matéria é água.
Triste, tomo o elevador e vou, para baixo, pensativo.
E caminho pelas calçadas olhando as vidraças
Dos homens, os rostos,
Querendo saber quem ama
E me detenho atordoado.
Hora de ir pra casa e preparar o jantar e escutar as românticas notícias da guerra pelo rádio.
Todo o movimento pára e eu caminho na tristeza intemporal da existência.
Ternura escorrendo entre os prédios
As pontas dos meus dedos roçando o rosto da realidade.
Meu próprio rosto sulcado de lágrimas
No espelho de alguma vidraça – no crepúsculo –
Quando não sinto mais qualquer desejo.
Confuso por causa do espetáculo ao meu redor,
O homem batalhando nas ruas
Com pacotes, jornais, gravatas, ternos maravilhosos,
Rumo a seu desejo.
Homens, mulheres, uma torrente nas ruas
Luzes vermelhas disparando apressados relógios e movimentos nas esquinas.
E todas essas ruas levando,
Tão intricadas, buzinadas, alongadas
Para avenidas espreitadas pelos altos prédios.
Carros e motores berram até chegar a esse campo, esse cemitério, essa quietude
De leito de morte"

Allen Ginsberg

2 comentários:

Daniele disse...

Pensei a mesma coisa quando li aquele trecho.

Anônimo disse...

maneiro essa galera da geração beat, são os equivalentes americanos aos existencialistas europeus...por uma questão de gosto, prefiro os europeus, mas estes são muito fodas...parece um texto escrito hoje.