É domingo, e já é tarde demais pra reanimar qualquer esperança, porque o céu está escuro, as horas estão rastejando e as pessoas não entendem, não entendem que eu posso me guiar pelos meus próprios pés e que eu não faço mal a ninguém vivendo meus poucos dias de paz do jeito que eu bem quiser.
Agora, diante de um dia frio e molhado, saboreio uns goles longos de café pra ver se sai o gosto vago de cinzas e chuva da minha boca seca e um tanto mendicante, que implora por saliva nova e uns sorrisos de satisfação.
A Lua está se dissolvendo escondida, sumindo pra sempre num infinito espelhado de fantasmas e formas e fontes e figuras e faíscas de fogo, pra voltar daqui a um tempo num espaço atemporal onde meus olhos cansados se fecham pra fingir não ver que a lua vai e chega e eu continuo a mesma, com as mesmas aflições e os mesmos problemas, com as mesmas palavras entaladas e os mesmo espinhos atravessados na garganta que me impedem de gritar pro mundo inteiro que a única coisa que eu quero é sentir a vibração passar pelo meu sangue levando um pouco de brilho até o topo da minha alma exalando um cheiro bem típico de quem vive o que quer viver sem se preocupar com o amanhã que nunca brota do orvalho da madrugada insana que fica empossado nas folhas mais verdes que me lembram os mais belos globos oculares que me olham diretamente no fundo das janelas da alma e me aquecem mesmo quando o frio é cortante e os dedos congelam e quando o dia parece perdido em meio a um turbilhão de coisas e poluição e fumaça e quando eu só precisava de um pouco de carinho pra consertar minha coluna estragada e meu pescoço tenso e meus músculos contraídos.
É domingo, agora existem vestígios de café e solidão e amor dentro de mim e só, mas amanhã é feriado e eu não posso desistir!
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