As manhãs cinzentas não traziam tempestades, mas sim mais e mais desilusões. Era terrível não poder acreditar por simplesmente ter conhecimento. Ela compreendia e só. Sozinha, desnorteada, apavorada.
A brisa que entrava pelos olhos profundos secava a garganta e fazia com que percebesse o frio e as certezas que estavam por vir.
Adoraria fantasiar. Ser. Experimentar o que faz mal, sentir a agonia do desespero de não saber o que virá. Praticar gerúndios que parecem nunca virar pretéritos imperfeitos. Sentir prazer no desconhecido. Queria viver, libertar; entregar-se! Por que não sentir de verdade? queria derramar lágrimas de felicidade. Sorrir mesmo, e não fingir satisfação. Olhar-se no espelho e ver que os olhos brilhavam de dentro pra fora. Gostaria de compartilhar "eu te amo's" sem preconceitos, pretensões; palavras sinceras jogadas ao vento, contra o mar, para molhar os corações litorâneos, sempre tão cheios de perguntas e vazios de sentimentos. O mundo era seu litoral!
Mas ninguém fazia isso por ela, a pobre menina dos cabelos alaranjados como o entardecer, em cima da pedra, que sentia o cheiro da maré e que por infelicidade do destino sabia que tudo acabava ali, na tortuosa linha do horizonte.