terça-feira, 7 de agosto de 2007

Em fim, liberdade!


Sentia-se inteiramente feliz por libertar-se.

Tinha 30 e poucos anos... 8 com um casamento - sim, um casamento e não um marido. Nome forte e olhos bonitos. Não os suportava por pensar ser indigna, já que nunca fora uma mulher forte e bonita.

Acordara em cólera. O homem com quem dormira nas ultimas muitas noites balbuciou algumas palavras, que de tanta vontade de não ouvi-las acabou não as entendendo mesmo. O ultimo barulho que escutou, antes de levantar-se naquela quinta-feira chuvosa, fora o da porta batendo com violência. Silêncio.
Resolveu levantar-se, mas não iria arrumar a cama como de costume... saiu correndo para o banheiro. Olhou-se no espelho, nos olhos, não sabia que estava tão velha. Estranho como 8 anos mudam as pessoas... Desconhecia se era culpa do tempo ou se era tudo culpa dela; o "marido" nunca havia reparado nela, então, há muito, desistira de manter a carinha de garota. Não foi um casamento arranjado, mas não casou-se apaixonada - o que pra ela foi uma grande frustração. Nunca foi muito de se arriscar com medo de acabar na sarjeta, implorando por uns trocados; mas estava pior, vivendo um amor de mentira, uma rotina que a enojava com um cara que nunca lhe dera nenhum apelido carinhoso (por isso foi obrigada a viver com o nome que não suportava). Também não tinha filhos, nem animais de estimação: o homem vivia falando que já tinha responsabilidades demais. Perdeu o contato com as poucas amigas, perdeu a mãe e nunca teve um pai. Perdeu o prazer em viver.
Sentiu um mal estar, uma tontura e percebeu que sua menstruação estava 4 dias atrasada. Estaria grávida? Impossível! Faziam uns 3 anos que não trepava e uns 8 que não tinha um orgasmo. Sim! fingira orgasmos esses anos todos com medo de perder o único cara que suportava suas manias. De repente jogou fora o jantar engolido na noite anterior. Não gostava de pizza de atum e era obrigada a comer uma todas as quartas-feiras, um costume antigo do cônjuge. Era como se deixasse um pouco do seu fracasso no vaso sanitário. Viu seus tormentos indo embora com a descarga... Devia ter feito isso sempre, pois sentia-se inteiramente feliz por libertar-se...

Um comentário:

Anônimo disse...

de cara, o melhor que você já escreveu.

tenho medo de me tornar essa garota aí.
sempre volúvel...

se baseou em alguém pra escrever estas linhas bem desenhadas?