terça-feira, 20 de novembro de 2007

Lady Lazarus

Tentei outra vez.
A cada dez anos
Eu tramo tudo
Um tipo de milagre ambulante,

minha pele brilha como um abajur nazista.
Meu pé direito um peso de papel
Face sem feições, fino linho judeu.
Livre-me dos panos!

Oh, meu inimigo. Eu te aterrorizo?
O nariz, as covas dos olhos, os dentes postiços?
O hálito azedo some num só dia.
Logo logo a carne, que a caverna carcomeu,

vai voltar pra casa, em mim.
Sou uma mulher que sorri.
Não passei dos trinta. E como um gato tenho nove vidas.
Esta é a Terceira. Que besteira! Se aniquilar a cada década.

Milhões de filamentos!
A platéia comendo amendoins se aglomera para ver
Desenfaixaram minhas mãos e meus pés

O grande strip-tease!
Senhoras e senhores, eis minhas mãos, meus joelhos.
Posso ser só pele e osso, mas sou a mesma, idêntica mulher.
Na primeira vez tinha dez anos. Foi acidente.
Na segunda tentei acabar com tudo e nunca mais voltar.

E rolei, fechada, como uma concha do mar.
Tiveram de chamar e chamar
E arrancar os vermes de mim como pérolas grudentas.
Morrer É uma arte, como tudo o mais.
Nisso sou excepcional!
Faço isso parecer infernal. Faço isso parecer real.

Digamos que eu tenha vocação.
É fácil demais fazer isso na prisão.

É fácil demais fazer isso e ficar num canto.
É teatral voltar em pleno dia ao mesmo local, à mesma cara, ao mesmo grito,
Brutal e aflito:
"Milagre!". Que me deixa mal.

Há um preço para olhar minhas cicatrizes,
há um preço para ouvir meu coração. Ele bate forte.
E há um preço, um preço muito alto

Para cada palavra ,ou um toque, Ou uma gota de sangue,
Ou um trapo, ou uma mecha de cabelo.

E então, Herr Doktor. E então, Herr Inimigo.
Sou sua opus. Seu tesouro.

Seu bebê de ouro puro que se derrete num grito.
Ardo e me viro.
Não pense que subestimei sua imensa consideração.
Cinzas, cinzas. Você remexe e atiça. Carne, ossos, não há nada ali.
Barra de sabão, anel de noivado, prótese de ouro.
Herr Deus. Herr Lúcifer. Cuidado!Cuidado!
Renascida das cinzas, subo com meus cabelos ruivos e como homens como ar.


Sylvia Plath
(eis o meu preferido.)

2 comentários:

Anônimo disse...

ah, um dos mais belos. guardo essas palavras, para que fiquem e fiquem, até que eu me vá, e à quem quiser inspiração, que inspirem e insPIREM e que fique, permaneça até que não haja mais sensibilidade e ouvidos e poetas e bêbados...

Anônimo disse...

http://www.sylviamovie.com/


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